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Pimenta-do-reino: uma análise histórica, presente e futura.

Historicamente a produção e o preço da pimenta-do-reino seguem ciclos de altas e de baixas.

por Fábio Luiz Partelli

em 04/05/2020 às 13h39

5 min de leitura

Pimenta-do-reino: uma análise histórica, presente e futura.

(Foto: *Leandro Fidelis/Arquivo Safra ES)


Historicamente a produção e o preço da pimenta-do-reino seguem ciclos de altas e de baixas. Nos últimos anos, houve um aumento significativo da produção mundial, fato também ocorrido no Brasil, principalmente no Espírito Santo. As motivações de maior ou menor produção estão ligadas fortemente aos preços, numa lei econômica básica, “Lei da oferta e demanda/procura ”.

A produção mundial de 1970 até 2019, sempre foi superior a 100 mil toneladas ao ano, com uma média de 130 mil toneladas entre 1970 a 1985. Nesse mesmo período, o Brasil teve uma participação de 21% da produção mundial. O consumo mundial de pimenta-do-reino cresceu e a produção acompanhou, sendo superior a 500 mil toneladas nos últimos anos. A produção amentou 66% de 2008 a 2019, um crescimento médio de 11% ao ano (Figura 1).

Entre 1986 aos dias atuais nota-se três “picos ” de baixa e três “picos ” de alta nos preços da pimenta-do-reino preta (Figura 1). Nota-se bons preções no final da década de 1980 e final da década de 1990 e depois elevação dos preços a partir de 2007 e valores históricos, acima de 7 mil dólares a tonelada a partir de 2011 persistindo até 2016. Nessa época, o produtor chegou a receber mais de 30 reais por quilo do produto, mesmo o dólar estando na faixa de três reais. Esse último ciclo de alta dos preços, durou bem mais que os outros dois ciclos anteriores, proporcionando um grande desenvolvimento nas regiões produtoras.

Conforme apresentado pela International Pepper Community (IPC), em 2017, no Brasil, o montante movimentado com as exportações de pimenta-do-reino alcançou valores em torno de 300 milhões de dólares e no mundo ultrapassaram 2 bilhões de dólares.

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O aumento da produção foi acentuado no mundo (Figura 1), puxado pela crescente demanda e elevação dos preços. Contudo, com produção maior que demanda os preços baixaram drasticamente atingindo atualmente valores próximos a 2 mil dólares a tonelada. Nitidamente, os preços baixos foram inferiores a mil dólares a tonelada em dois períodos (início da década de 1990 e 2000). Ressalva-se que a moeda norte americana também apresenta desvalorização monetária, portanto mil dólares na década de 1990 tinha muito maior poder de compra que mil dólares na atualidade.

Em 2020, o preço recebido pelos agricultores tem girado em torno de sete reais o quilo. Apesar do baixo preço da pimenta-do-reino, este ainda poderia estar pior, caso não tivesse ocorrido desvalorização da moeda brasileira. Por exemplo, no início de 2019 o dólar estava em torno de R$ 3,80 e recentemente tem ficado acima de R$ 5,30. Isso mostra, que o preço da pimenta-do-reino poderia estar em torno de cinco reais caso o Câmbio estivesse nos valores de início de 2019.

O investimento no cultivo da pimenta-do-reino é grande, comparado inclusive com o café (que também não é baixo) e demora mais de dois anos para ter a primeira colheita significativa. Provavelmente por isso, quando o preço sobe o crescimento da produção demora alguns anos para ocorrer, e o contrário também ocorre, pois, o investimento já foi realizado e os agricultores não abandonam a lavoura, pois o prejuízo pode ser ainda maior. É por esse “dilema ” que os agricultores estão passando nesse momento.

Logicamente não é fácil prever o que irá ocorrer no futuro, afinal existe muitas variáveis não controladas, como por exemplo, problemas climáticos na Ásia que afeta a produção e, os preços voltam a subir, desvalorização ou valorização do real, dentre outras variáveis, como por exemplo a pandemia do Covid19. Por sua vez, observando o histórico, considerando normalidades climáticas e de câmbio, acredita-se que o preço deva voltar a melhorar (em dólar) apenas no início de 2023. Um “baita ” chute.

Entre a década de 1970 a 1990 a produção mundial de pimenta-do-reino concentrava-se em três países. Depois surgiram outros como o Vietnã que passou a ser o maior produtor mundial, com mais de 200 mil toneladas (Figura 2). Atualmente a China, a Malásia, a Camboja e o Sri Lanka produzem acima de 20 mil toneladas por ano. O Brasil entre 1986 a 2018 teve uma participação média de 12,7% da produção mundial, sendo bem menor comparado aos anos de 1970 a 1985.

Historicamente no Brasil, o Estado do Pará por décadas foi o maior produtor, contudo, a partir de 2018, o Espírito Santo passou a ser o maior produtor, seguido pelo Pará e Bahia. A área plantada entre os dois maiores produtores é similar, porém a produtividade Capixaba é quase o dobro comparada ao Estado do Pará.


Figura 1. Produção mundial de pimenta-do-reino e preço por tonelada no mercado internacional. Fonte: Arquivos do autor e adaptação da International Pepper Community. *2020J-M – refere-se a média de três meses de 2020.


Figura 2. Produção de pimenta-do-reino nos principais países produtores, desde 1970 a 2018. Fonte: Arquivos do autor e adaptação da International Pepper Community (2020).


*Fábio Luiz Partelli é professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

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