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Agricultura familiar

A coturnicultura como alternativa para a complementação de renda na agricultura familiar

por Animal Business Brasil

em 13/08/2020 às 11h03

10 min de leitura

A coturnicultura como alternativa para a complementação de renda na agricultura familiar

Foto: Animal Business Brasil

Atualmente, tem-se discutido com bastante ênfase, sobre as alternativas encontradas pelos pequenos e médios produtores, muitos proprietários de produções antigas, para manter ou complementar sua renda na chamada agricultura familiar. Estas alternativas, baseadas em critérios técnicos, permitem que os pequenos e médios produtores, mesmo enfrentando adversidades de mercado, possam obter uma boa renda ou mesmo uma complementação dela.

Diante disto, uma opção interessante e de baixo custo é a coturnicultura (criação de codornas), principalmente no âmbito da agricultura familiar. De acordo com o IBGE e com a fonte de pesquisa pecuária municipal (inquérito
anual e que atinge todo o território nacional, com informações para o Brasil, Regiões Geográficas, Unidades da Federação, Mesorregiões Geográficas, Microrregiões Geográficas e Municípios), o número efetivo do plantel (cabeças) de codornas e a quantidade de produtos de origem animal em mil dúzias (ovos), em 2018, foram estimados em 16.840.524 e 297.311, respectivamente.

Com a mudança de hábito da população e a implantação do sistema de
self-service
nos restaurantes, a carne e os ovos de codorna (em conserva ou não), foram adicionadas ao cardápio e caíram no gosto de seus assíduos frequentadores. Este setor alimentício impulsionou este mercado de forma considerável nos últimos anos.

Dentre as muitas vantagens que a criação de codornas pode oferecer ao produtor/agricultor familiar, podemos citar:

  • O baixo investimento inicial, barateando os custos com as atividades referentes ao todo processo de criação (do nascimento das aves até a produção final). Apesar de existirem rações especializadas no mercado, as codornas possuem um reduzido consumo alimentar, com uma ave adulta consumindo em média 35 g de ração por dia.
  • A criação demanda uma pouca mão-de-obra, podendo, dependendo da estrutura das instalações, um funcionário apenas cuidar de 20 mil aves.
  • A criação de codornas requer pouco espaço para iniciar a atividade. Uma área de 15 x 4 cm, pode abrigar até 1000 codornas adultas e em codornas de pequeno porte, 1m2
    para cada 50 codornas.
  • Com a obtenção do controle da produção, existe um retorno financeiro rápido, tendo em vista que, fatores biológicos da espécie interferem positivamente na produção, já que as aves atingem rapidamente a maturidade (em 45 dias estão prontas para o abate) e a idade de postura.

Outro ponto positivo é que os ovos de codorna têm comercialização garantida, podendo ser vendidos
in natura, cozidos ou até mesmo em conservas.

Como toda criação, existem pontos críticos que o produtor deve se atentar para manter o plantel em condições saudáveis e férteis como: as aves são muito precoces, elas apresentam um alto índice de
stress, e qualquer ruído muito alto pode interferir em sua produção. Os galpões devem ser construídos o máximo possível distante de estradas e residências. Deve-se também tomar cuidado com os bebedouros e comedouros que devem ser ajustáveis para o tamanho e idade dos animais.

Instalações e infraestrutura para criação de codornas

Na coturnicultura, fatores que possam influenciar uma boa ambiência das aves, como a medida certa de incidência de luz no criatório, alimentação adequada e manejo correto dos animais, são fundamentais para o sucesso da produção. A estrutura a ser montada para tal criação requer uma infraestrutura de baixo custo e de fácil aquisição, porém mesmo assim o produtor deve priorizar qual será a finalidade da criação, comercialização de carne ou ovos, e se é voltada para subsistência ou não.

Primeiramente, deve-se levar em consideração o lugar escolhido para a criação dos animais, devendo este possuir uma boa circulação de ar e com a possibilidade de fechamento em dias muito frios. Sobretudo, deve-se se dar atenção à temperatura destes locais, que não deve ultrapassar os 25 ºC. O ideal é que se consiga manter uma temperatura média de, aproximadamente, 18 a 20 ºC.

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Se a criação for voltada para a produção de ovos, o quesito temperatura torna-se preponderante, tendo em vista que, temperaturas elevadas reduzem a fertilidade das aves, atingindo de maneira negativa na produção.

Os galpões ou criatórios, como citados anteriormente, devem ser fechados ou abertos, tendo o produtor a possibilidade de construí-lo próximo ou até mesmo no interior de sua propriedade, desde que seja um local arejado. A cobertura deve possuir um telhado acoplado à construção, devendo garantir além de proteção, conforto térmico aos animais. Em relação às gaiolas, existem alguns tipos, variando de acordo com a finalidade da criação ou fase de crescimento das aves.

Para codornas de postura, as gaiolas devem ser de arame galvanizado, pois são mais fáceis de higienizar. Apresentam medidas padronizadas podendo comportar um número adequado de aves sem que haja comprometimento do bem-estar animal. As gaiolas de recria são maiores e com as dimensões adequadas para abrigar as codornas em fase de crescimento, as mesmas permanecendo nestas gaiolas de 15 a 35 dias. E por fim as codornas voltadas para o abate (corte), possuindo dimensões maiores que as demais devido a importância do ganho de peso animal.

A criação de codornas e o melhoramento genético

Na criação de codornas para postura, o criador deve conhecer as espécies e suas características, como também a necessidade da realização de algumas práticas de manejo da produção, nutrição e reprodução, fundamentais para desenvolver o melhor potencial reprodutivo das aves. A maioria das aves utilizadas na criação de codornas no Brasil pertencente ao gênero
Coturnix. As codornas japonesas (Coturnix coturnix japonica) e européias (Coturnix coturnix coturnix) são as espécies predominantes, seja para a produção de ovos ou carne.

Não há problemas na criação de codornas de espécies diferentes, contanto que sejam mantidas separadas, pois possuem características reprodutivas diferentes.

A codorna africana (Coturnix delegorguei) é a mais arisca, e por isso, deve ser criada em ambientes com maior espaço para evitar brigas e
stress
entre os animais. É uma ave com baixa postura, variando de, 4 a 8 ovos por período reprodutivo.

A codorna americana (Colinus virginianus): é a maior codorna dentre as mais criadas, podendo atingir 25 cm. A sua produção de ovos é bem pequena, sendo muito utilizada na criação de codornas com fins de comercialização de carne.

A codorna européia (Coturnix coturnix coturnix): produz ovos grandes, a uma taxa de 200 ovos por ano e apresenta excelente conversão alimentar, atingindo até 220 g aos 21 dias de idade. É uma ótima ave para criação.

A codorna japonesa (Coturnix coturnix japonica): é a mais criada no Brasil e para quem está iniciando a criação de codornas, esta é a ave ideal. Possui docilidade, e como uma ótima característica, possui adaptabilidade a muitas condições climáticas. Além de tudo, inicia a postura com 35 dias de vida, com uma produção de 200 a 300 ovos por ano.

Nutrição e alimentação das aves

O produtor deve ter em mente que para conseguir uma boa criação de codornas, a alimentação do plantel deve manter certo equilíbrio, portanto deve ser realizada levando em conta a finalidade da criação e as fases de vida do animal.

As fases de vida delas compreendem:
a fase de cria
(que vai do nascimento até os 21 dias, onde deve se priorizar fornecer às aves uma boa quantidade de proteína bruta, visando o ganho de peso);
a fase de recria
(são criadas com alimentação específica até os 35 dias de vida);
fase de postura
(após os 35 dias de vida as aves passam a ter uma dieta específica para produção de ovos); e
fase de engorda
(fase de ganho de peso e voltadas para o corte).

Em cada uma dessas fases, a criação de codornas deve obedecer a um tipo específico de dieta. Contudo, em todas as fases as rações devem fornecer o mínimo de 25% de proteína bruta aos animais, associado ao milho e soja. Todos estes cuidados fornecem uma ótima qualidade da carne e/ou ovos com baixo teor de colesterol e ricos em vitaminas B1, B2, ferro, fósforo e cálcio.

Reprodução e manejo

O manejo reprodutivo das codornas deve ser feito com cuidado, devendo evitar o cruzamento entre parentes próximos. Isso se deve ao fato de as codornas serem extremamente sensíveis a consanguinidade, podendo acarretar em infertilidade ou crias fracas. Pode haver a coletividade nas gaiolas, porém deve-se realizar com frequência o rodízio de machos, sendo a proporção de aves de 1 macho para cada no mínimo 3 fêmeas.

Quando a produção para corte ou postura for realizada no mesmo local, deve-se optar pela incubação artificial dos ovos.

Os pintinhos de codorna são bem sensíveis ao exterior e precisam de alguns cuidados ao nascer e em seus primeiros dias de vida como, temperatura ótima de 38ºC no círculo de proteção, luz 24 h por dia, ração e água à vontade. Nos dias subsequentes, deve-se reduzir diariamente 1ºC e atentar a limpeza do ambiente para não ocorrer contaminação cruzada. O ideal é que, a assepsia do ambiente seja realizada, no mínimo, duas vezes ao dia. Além disso, os locais destinados aos bebedouros e comedouros devem ser limpos e a água e a ração trocadas, com a mesma frequência.

Sanidade do plantel

Em toda criação que envolve a cadeia produtiva animais, é necessário que se tenha um monitoramento e adequação de manejo e sanidade nos animais e instalações. Para aves, mais especificamente em relação às codornas não é diferente, devendo ser uma atividade cotidiana.

Assim como as galinhas caipiras criadas de forma intensiva ou extensiva, as codornas são susceptíveis a parasitas e outros microrganismos. Um grande problema a se enfrentar na criação avícola são parasitos gastrintestinais como as coccidioses e alguns helmintos, tendo em vista que, suas formas evolutivas encontram-se pela cama de frango, gaiolas e água de bebida quando estes não são trocados e não higienizados periodicamente e de maneira correta.

Com o intuito de monitoramento, uma atividade preventiva resume-se na observação criteriosa da plumagem e pernas das aves. Ao menor sinal de qualquer lesão ou modificação perceptível na aparência, coloração das aves, deve-se separar o animal sintomático dos demais para evitar um possível contágio.

O produtor pode lançar mão de alguns antibióticos solúveis em água (Terramicina ou quemicitina) para evitar essas infecções, três dias durante um mês, como método preventivo. A vacinação dos animais também é fundamental, assim como a higiene e limpeza regular e minuciosa do criatório. Algumas doenças de aves podem acometer as codornas como a coccidiose, a bouba aviária, micoplasmose, aflatoxicose e as doenças do trato respiratório como bronquite infecciosa, coriza e doença de Newcastle.

No Brasil, a coturnicultura vem apresentando um crescimento acelerado nos últimos anos, com alguns produtores já contando com tecnologia mais moderna. O sabor exótico da carne e o baixo custo para implementar uma pequena criação inicial são os principais atrativos para aqueles que desejam começar a produzir.

Implantação do Programa de Avicultura Familiar (PAF)

Com a implantação deste programa de avicultura familiar pelo governo dos Estados, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário (SEAGRI), houve uma parceria mais sólida entre os pequenos produtores, ou seja, aqueles que necessitam de mais auxílio para manter sua produção e o comércio local. Este programa prevê a união de produtores avícolas locais, inclusive com a criação de uma associação com cooperativas de pequenos produtores que se encarregam muitas das vezes do beneficiamento da carne e/ou ovos de codorna.

O governo através deste programa auxilia de maneira integrativa a avicultura familiar, através da aquisição de pequenas fábricas de ração, sala de ovos e pequenos abatedouros, diminuindo assim os gastos excessivos dessa comunidade local com a produção. O grande objetivo deste programa é proporcionar às populações carentes, pequenas soluções que possibilitem mudanças no sentido de crescimento do comércio local e regional.

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