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Desafios e reflexões sobre a cafeicultura capixaba

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em 11/09/2019 às 18h50

4 min de leitura

Desafios e reflexões sobre a cafeicultura capixaba

*Leandro Fidelis/Arquivo Safra ES

O ano safra da cafeicultura está no fim e as últimas estimativas oficiais apontam para uma produção capixaba em 2019 da ordem de 12,8 milhões de sacas, sendo 9,5 milhões de café conilon e 3,3 milhões de arábica. Números que confirmam o Espírito Santo como segundo produtor nacional de cafés, sendo o líder em conilon.

Devido à bienalidade, a produção de café arábica, típico das regiões mais frias, será 30% menor em relação à safra passada. No caso do Conilon, estimou-se
crescimento em torno de 6%, e o patamar de produção volta aos níveis alcançados antes da seca, que assolou grande parte do território capixaba, entre 2015 e 2017. Com mais de 425 mil ha cultivados, a cafeicultura
no Espírito Santo permanece como o principal segmento da economia na geração de emprego e renda, em cerca de 80% dos municípios interioranos.

Apesar de ser um arranjo produtivo centenário e bem consolidado, muitos desafios ainda precisam ser superados para que os cafeicultores, que são a base da cadeia de valor, continuem produzindo e ofertando cafés com um nível de remuneração que permita a competitividade e a sustentabilidade de seus processos produtivos.

A ampliação da produção de cafés de qualidade é um desafio que está na pauta do dia. E não mais somente para melhorar o nível de renda do cafeicultor, mas para garantir a sua permanência no mercado. No arábica, a evolução da qualidade começou pela região Central Serrana há mais de duas décadas. Mais recentemente, exemplos exitosos vão se multiplicando no Caparaó.
Contudo, se a velocidade desse processo não aumentar, muitos cafeicultores ficarão pelo meio do caminho, ou melhor, da rota de mão única em direção à qualidade.

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No Conilon, é mais recente a marcha pela qualidade, com cafeicultores pioneiros obtendo os primeiros resultados. Tecnicamente, é possível apostar em avanços no curto prazo, pois o primeiro patamar da qualidade passa pela colheita de frutos maduros e em cuidados subsequentes, tecnologias disponíveis e de fácil acesso, e que não representam aumento dos custos na produção.

A elevação da produtividade, ou seja, a produção por área cultivada, é fundamental para a melhoria de dois indicadores essenciais: ampliação da produção total da propriedade rural, e por consequência da renda, e redução dos custos unitários de produção, para cada saca de café produzida. Produtividades médias ao redor de 40 sacas beneficiadas por ha para o Conilon e variando de 22 a 30 sacas para arábica, dependendo se o ano é de safra alta ou baixa, vão determinar a saída de muitos cafeicultores do mercado, principalmente dos que estão nessa média ou abaixo dela.

Nesses níveis de produtividade, os custos de produção são muito superiores aos preços recebidos. Fato que se agrava ainda mais neste momento de preços baixos. Na melhoria da qualidade e na ampliação da
produtividade, os cafeicultores devem ser os protagonistas, pois o conjunto de ações para a superação desses desafios são mais inerentes à gestão interna das propriedades.

Por outro lado, os preços recebidos pelos cafeicultores são influenciados por diversos fatores que vão além da produção interna capixaba e brasileira. Bolsas, papéis, mercado volátil, especulações sobre produção futura e
comportamento do consumo
afetam mais o preço do que a produção física em si. Nesse sentido, como maior produtor e exportador
de café, o Governo Federal precisa acionar e alocar recursos para as políticas já existentes de
regulação de preços, além de estabelecer um horizonte melhor para a renegociação das dívidas de crédito rural, que se acumularam nesses anos de seca e pós seca.

Enfim, há lições aprendidas que devem ser multiplicadas e desafios que precisam ser superados por todos os atores da cafeicultura, com participação decisiva tanto do poder público quanto dos cafeicultores, para que os sabores e aromas dos nossos cafés continuem a encantar o Brasil e o mundo!

*Enio Bergoli- Engenheiro Agrônomo do Incaper, pós graduado em Administração Rural e Ex-secretário de Estado da Agricultura

Divulgação


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