pube
Cafeicultura

‘Não se precipitem para iniciar a colheita’, diz presidente da Coocafé

Declaração reflete preocupação de cafeicultores e entidades do setor para o início da safra 2020 nas regiões produtoras entre Espírito Santo e Minas; período vai coincidir com pico da Covid-19 previsto pelo Ministério da Saúde

por Leandro Fidelis

em 26/03/2020 às 13h55

6 min de leitura

‘Não se precipitem para iniciar a colheita’, diz presidente da Coocafé

*Fotos: Leandro Fidelis/Arquivo Safra ES

Os cafeicultores e entidades do setor estão apreensivos com a proximidade do início da colheita entre Espírito Santo e Minas Gerais diante do avanço da pandemia do novo coronavírus. Previsão do Ministério da Saúde (MS) é que o pico da Covid-19 no Brasil ocorra entre abril e junho, período da safra 2020.

Nesta quarta-feira (25), em entrevista para uma rádio local, o diretor-presidente da Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé), Fernando de Cerqueira, pediu calma aos produtores e os orientou a não colherem café antes da hora.

“A recomendação aos cooperados é que não se precipitem em iniciar a colheita. O café está verde, vivemos um momento bom no mercado.
Se produtor colher agora, vamos perder peso, preço e qualidade. Estamos monitorando, acompanhando, com as equipes técnicas a postos e vamos sugerir soluções para nosso cooperado. Nossa região ainda está pouco afetada pela contaminação do coronavírus. É necessária calma nessa hora. Precisamos aguardar os acontecimentos ”, declarou Cerqueira.

O presidente da Coocafé destacou ainda a necessidade das medidas preventivas neste período, principalmente com a aglomeração de trabalhadores.

“Uma coisa é certa: nós não temos todas as respostas. Podemos apenas orientar, prever e prevenir. Não sabemos como estará a região daqui a 30 dias. Se continuamos tomando medidas preventivas vamos ter uma amenização do problema com maior rapidez. O fato é que neste momento existem restrições de trânsito. Em alguns municípios, há ônibus, kombis ou Van transportando trabalhadores e a polícia barrando isso. Trata-se de um momento específico, não significa que isso vai se prolongar até a colheita ”, concluiu.

*Ouça trecho da entrevista com Fernando Cerqueira (Coocafé)!

União

Ontem também o secretário de Estado da Agricultura do Espírito Santo, Paulo Foletto, gravou vídeo para comunicar a união das entidades representativas do setor cafeeiro capixaba na tomada de decisões para a safra 2020, a exemplo dos centros de Comércio de Café de Vitória (CCCV) e de Desenvolvimento Tecnológico do Café (Cetcaf), as federações da Agricultura e Pecuária (Faes) e dos Trabalhadores na Agricultura (Fetaes), a OCB/ES, o Incaper, o Idaf e a Ceasa.

“Nós nos reunimos com a Secretaria de Saúde e os grandes atores do café capixaba para tomar decisões junto ao núcleo de governo que discute as ações principais. Quero agradecer ao agricultor capixaba que vem lutando para manter a produção e a comercialização não só para o Estado como outros que abastecemos juntos ”, disse Foletto.


pube


Preocupação maior com alojamentos coletivos no Norte

Representantes das cooperativas agro relatam realidades diversas nas colheitas do arábica e do conilon no Espírito Santo. Enquanto na primeira espécie do grão, a mão de obra familiar dispensa contratação de trabalhadores na maioria dos casos, no Norte capixaba a preocupação é com os alojamentos coletivos em fazendas produtoras de conilon.

Os trabalhadores temporários vêm geralmente de Minas Gerais e Bahia, Estados com dezenas de casos confirmados da Covid-19. O Cetcaf estima que
20 mil pessoas devam ser contratadas na colheita, que segue até o segundo semestre.

Com a proximidade da safra, a Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), maior cooperativa de conilon do Brasil, criou um Comitê Interno e está ajustando uma série de orientações para os sócios para para evitar a contaminação pelo coronavírus.

“A nossa preocupação é grande com a segurança de nossos produtores, colaboradores e comunidade. Já emitimos uma série de orientações nos últimos dias em relação à prevenção da pandemia ”, afirmou o presidente da Cooabriel, Luiz Carlos Bastianello.

Luiz Carlos Bastianello, presidente da Cooabriel.

O presidente destaca que muitos trabalhadores vêm de fora e irão compor os alojamentos coletivos nas propriedades. A recomendação aos cafeicultores antes de contratar é informar ao trabalhador que compor o grupo de risco ou que apresente sintomas de gripe que permaneça em casa e, no caso de contratação, que seja isolado na colheita.

No sul, há menor necessidade de contratações de profissionais para a safra do arábica, mas a ordem é evitar circulação desnecessária entre a roça e a cidade ou vice-versa.

É o caso da Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (Cafesul), com sede em Muqui. O presidente, Renato Theodoro, afirma que a entidade está cercada de todos os cuidados para evitar o impacto da Covid-19.

“Esta semana suspendemos todas as atividades internas e externas, incluindo o deslocamento dos caminhões para buscar café nas propriedades. Continuamos aguardando mais orientações do Governo do Estado. Em princípio, aconselhamos
os cooperados a seguirem as determinações dos órgãos oficiais. A maioria dos nossos agricultores são familiares, contratam pouca mão de obra externa, às vezes na própria cidade. E a gente vai orientar muita troca de serviço para evitar circulação de pessoas da roça para a cidade e vice-versa. De certa forma, se mantendo nos seus lugares estarão mais protegidos da disseminação do coronavírus ”, declarou Theodoro.

*Ouça o presidente da Cafesul!


Já o diretor executivo de marketing da Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi), Daniel Piazzini, informa que as medidas preventivas com relação à colheita do café ficam a cargo do produtor associado. De acordo com ele, a maior parte do quadro social da cooperativa- com mais de 15 mil cooperados- é formada por agricultores familiares, sendo 70% dos cafeicultores com a família participando diretamente da colheita.

Torradores pedem prorrogação do embarque

Especialistas do setor do café afirmam que a barreira sanitária imposta por alguns países importadores, em especial da Europa, não afeta ainda a exportação do produto capixaba.

“A única preocupação lá fora é com possível paralisação dos portos do Rio de Janeiro e Santos ”, disse a corretora internacional de café Rosane Monteiro.

De acordo com Rosane, com a redução no consumo devido ao fechamento momentâneo de estabelecimentos comerciais em países como Itália, Alemanha e Espanha, alguns torrefadores europeus- que trabalham com estoque de 90 dias- têm pedido a prorrogação do embarque de café.

“Eles estão com estoque alto e não estão vendendo ”, finaliza a corretora.


Clique aqui e receba as principais notícias do dia no seu WhatsApp e fique por dentro do que acontece no agronegócio!