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Uma paixão chamada conilon de qualidade

Produtora de São Mateus, no norte capixaba, transforma antiga fazenda de pecuária em lavoura de café e laboratório para produção de conilon de qualidade

por Rosimeri Ronquetti

em 11/01/2024 às 6h47

6 min de leitura

Uma paixão chamada conilon de qualidade

*Fotos: Rosimeri Ronquetti

*Matéria publicada originalmente em 05/01/2021*

Sempre que o assunto era café de qualidade Maria Aparecida Checchin Correia (55) só ouvia falar do arábica e se perguntava: por que não conilon de qualidade? As respostas nunca foram convincentes. O interesse pelo tema ganhou força há dois anos. Tudo começou quando um turco passou na pastelaria dela, às margens da rodovia 381, que liga São Mateus a Nova Venécia e corta sua propriedade, no primeiro município, procurando conilon de qualidade para comprar.

Na época, Aparecida conta que já produzia pimenta do reino e ofereceu o produto ao estrangeiro, mas ele disse estar em busca apenas de conilon de qualidade. Foi o incentivo para a filha de pecuarista, nascida e criada em fazenda, mas sem nenhum conhecimento na área, decidir se tornar produtora de conilon de qualidade.

“Não ouvia ninguém falar de conilon de qualidade, e isso me intrigava. Todo mundo me dizia que conilon não tinha qualidade. E eu comecei a questionar: como não dá, se já tem até concurso? Se tem concurso é por que tem alguém fazendo, e dá certo. Quando conhecemos o turco, em busca justamente de conilon de qualidade, decidi eu mesma plantar e produzir ”, revela a cafeicultora.

Aparecida deixou para trás a carreira no serviço público e está transformando parte da antiga Fazenda Primavera, que recebeu de herança e rebatizou de Sítio Valdete Correia, em homenagem ao pai, em um laboratório para produção e beneficiamento de café conilon de qualidade.Onde sempre existiu pasto, agora estão 12.700 pés de café, destes 1.318 consorciados com açafrão, e 235 pés de moringa, onde também será plantada pimenta do reino.

Aparecida explica que a moringa plantada em meio ao café faz parte de um experimento.“Quero avaliar e comparar se o café plantado com sombreamento parcial, proporcionado pelos pés de moringa, apresentam melhor qualidade ou diferença no sabor que os expostos 100% ao sol ”, comenta. Já o açafrão, segundo a produtora, é uma forma de aproveitar o espaço livre do terreno enquanto as demais cultivares estão em formação.

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Além do cuidado na seleção das mudas, todas feitas a partir de clones que já deram bebida boa, outra medida adotada pensando na qualidade dos grãos é a produção limpa. A propriedade caminha para se tornar 100% livre de agrotóxico. No momento apenas a adubação ainda é feita com adubo convencional.

Caixas de abelha sem ferrão da espécie Uruçu Amarela, instaladas no sítio, garantem a polinização natural das plantas. Já no cafezal não é difícil encontrar joaninhas. Sinal de um ambiente em equilíbrio, diz Maria Aparecida. As joaninhas fazem o controle natural das pragas dos pés de café.

“Produção por produção de café todo mundo já faz. Plantei café para fazer qualidade, não quero ser mais uma produtora de café. Quero investir em qualidade, e quem sabe no futuro produzir cafés especiais ”, declara a cafeicultora.

Além da pimenta plantada para aproveitar a moringa usada no experimento, Aparecida tem ainda cerca de 8.300 mil pés de pimenta.

Parada obrigatória para os apreciadores

A primeira colheita de café está prevista para este ano. Mas, enquanto não começa a produção, Maria Aparecida vai aos poucos mudando o ambiente ao redor da lavoura. Se o terreno onde só tinha pastagem agora é ocupado por plantação de café e pimenta, o antigo curral da fazenda, de aproximadamente 130m² e com mais de 30 anos, começa se tornar o que promete ser uma parada obrigatória para apreciadores, produtores e demais interessados em conilon de qualidade.

Preservando as características do curral, o espaço vai aos poucos se transformado em uma casa de torra e preparo do café para degustação. Um local pensado para palestras, cursos e eventos diversos. Tudo voltado para a disseminação e a comercialização do conilon de qualidade.

“Quero fazer desse local parada obrigatória para apreciadores de bons cafés. Minha ideia é que a pessoa chegue e tome um café torrado e moído na hora, que ela veja e participe do processo. Quem sabe receber grupos de produtores e pesquisadores para conhecer a lavoura, pessoas realmente interessadas no conilon de qualidade ”, explica Aparecida.

Além da casa de torra, ainda sem nome certo, Maria Aparecida já construiu a estufa para secagem dos grãos e plantou várias espécies de árvores nativas para sombrear o curral. A intenção é deixar tudo pronto até a colheita para que os testes comecem já com os primeiros grãos colhidos, e aos poucos ir aperfeiçoando todo processo, desde a colheita até o produto final.

A motivação para toda essa mudança vem do amor pela terra e como forma de preservar o que o pai deixou. “A história do meu pai é muito bonita. O que ele não teve quis fazer para os filhos e conseguiu. Quando herdei parte da fazenda não quis deixar acabar. Quis preservar, por isso, estou transformando o curral, com tudo que tinha, em espaço para o café ”, esclarece.

Carta de princípios norteia produtores em busca de qualidade

Para ajudar produtores interessados em também produzir conilon de qualidade, Maria Aparecida e Tiago Camiletti, cafeicultor de Sooretama há três anos nesta área, resolveram formar uma associação na região. Diferente das associações convencionais, com estatuto e presidente, o que norteia a associação de produtores de conilon de qualidade é uma carta de princípios.

“Resolvemos reunir pessoas com o mesmo interesse, porém sem tanta burocracia que uma associação normal exige. Por isso optamos pela carta de princípios. Teremos tudo registrado, mas o que orienta o caminho a seguir é a carta de princípios para produzir conilon de qualidade, o nosso objetivo ”, salienta Aparecida.

Idealizador do projeto, Tiago Camiletti explica que a associação é uma forma de divulgar o conilon de qualidade e mostrar ser possível fazer. Um dos objetivos é ajudar os cafeicultores, especialmente os pequenos.

“Queremos servir de exemplo, fortalecer essa ideia entre os produtores e ajudar, dar oportunidade aos pequenos que tem vontade de fazer o conilon de qualidade, mas não o conseguem sozinhos. Mostrar ser possível melhorar o valor agregado e ter mais rentabilidade com o café produzido ”, comenta Camiletti.

Entre os princípios previstos na carta estão: compromisso com a terra, o meio ambiente e a planta. A previsão é que toda parte legal da associação esteja finalizada no primeiro semestre deste ano.

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