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Como criar camarão de água doce (Camarão da Malásia)

No Espírito Santo há pelo menos quatro larviculturas comerciais, duas localizadas no norte, uma no centro e outra no sul

por Wellington Anholetti

em 21/12/2023 às 6h07

7 min de leitura

Como criar camarão de água doce (Camarão da Malásia)

*Matéria publicada originalmente em 18/08/2020*

 

A produção de camarões de água doce envolve a produção de pós-larvas (larvicultura), a de juvenis (berçário) e a de adultos (crescimento final ou engorda). O professor de Aquicultura do Ifes Alegre, Bruno Preto, explica que a fase de larvicultura é a mais delicada, necessitando de controle constante dos parâmetros de qualidade da água e da alimentação dos animais.

“As larvas são obtidas a partir de reprodutores (fêmeas ovígeras) e são criadas até atingirem a fase de pós larvas. O sistema utilizado é de recirculação de água (embora possa ser realizado em sistema aberto, que, no entanto, não é indicado). A água deve ser salobra por conta das características biológicas das larvas dos camarões. Há necessidade de aeração constante. Por isso, é importante que o larvicultor disponha de um gerador de energia elétrica no laboratório de produção ”.

No Espírito Santo há pelo menos quatro larviculturas comerciais, duas localizadas no norte, uma no centro e outra no sul. O Estado recebe ainda, desde a década de 1990, pós-larvas e juvenis de uma empresa do Rio de Janeiro. As pós-larvas têm sido comercializadas a valores que variam de 120 a 150 reais o milheiro.

A fase de berçário ocorre em água doce, podendo ser realizada em ambientes mais controlados de recirculação de água, em tanques de alvenaria, de fibra de vidro, ou lonados (geomembrana). Dependendo das características ambientais da região ou do período do ano, os tanques podem ser cobertos por estufa (a temperatura ideal da água é de 28 a 30° C).

*Fotos: Fabiano Giori-Senar-ES/Divulgação

O berçário também pode ser realizado em viveiros escavados, em sistema semelhante ao utilizado na fase de engorda. As pós-larvas podem ser acondicionadas diretamente nos viveiros ou também em hapas (estrutura parecida com tanques-rede). Geralmente são utilizadas densidades elevadas, em torno de 200 a 500 indivíduos por metro quadrado. Essas densidades podem ser ainda mais elevadas ou até mais baixas, dependendo dos objetivos do produtor.

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Bruno Preto ressalta ainda que embora o controle da qualidade da água e da alimentação não seja tão “completo ” como na fase de larvicultura, é necessário muita atenção.

“Nesta fase, pós-larvas de peso médio de 0,02 g são criadas até atingirem a fase de juvenis, com pesos que geralmente variam de 0,2 a 3 g. O povoamento de viveiros de engorda com juvenis é muito mais interessante do que o povoamento direto com pós larvas. Os juvenis são mais robustos, mais resistentes, principalmente em relação a possíveis predadores. Além disso, o povoamento com juvenis possibilita um período mais curto de crescimento final ”, destaca Preto.

No Espírito Santo é comum a prática de engorda utilizando o povoamento dos viveiros diretamente com pós-larvas. Neste caso, é esperado que a mortalidade seja maior e que o tempo de crescimento final seja prolongado. A fase de berçário geralmente é realizada pelo larvicultor, que além de comercializar pós-larvas, comercializa juvenis.

Mas o produtor que pretende realizar a engorda de camarões pode, sem muito “mistério ”, realizar a fase de berçário em sua própria propriedade. Isso pode ser muito interessante. Os juvenis são comercializados a valores que variam frequentemente de R$ 200 a R$ 300o milheiro.

A fase de crescimento final ou engorda é a mais praticada, tendo como maior região produtora o norte do Espírito Santo. Isso se deve às características ambientais da região e do perfil dos agricultores locais.

A engorda pode ser realizada em sistemas de monocultivo (criação apenas de camarões) ou em sistemas integrados de produção, como o policultivo (criação de camarões em conjunto com outras espécies no mesmo viveiro ao mesmo tempo). O monocultivo é a técnica mais utilizada no Espírito Santo. No entanto, há produtores que atuam com o policultivo, principalmente de camarões com tilápias. Os sistemas de policultivo são mais utilizados nas regiões centrais e sul capixabas.

O monocultivo pode ser do tipo intermitente ou contínuo. No sistema intermitente, o viveiro é completamente drenado ao fim de cada ciclo produtivo. Já no contínuo, são realizadas despescas seletivas e repovoamento do viveiro com juvenis, sem a drenagem da água do viveiro. Além dos diferentes tipos de sistema de criação, os níveis de tecnologia podem variar bastante.

Maior produtividade

A elevação dos valores de investimento e dos custos operacionais pode ser compensada pela maior produtividade. No norte do Espírito Santo é comum a utilização de dois ciclos anuais com produtividades chegando a 3 toneladas/ha/ano. No entanto, em uma região quente, com a adoção desse técnicas de cultivo especializadas, seria possível a realização de até três ciclos de engorda por ano, com produtividades superiores a 4 toneladas/ha/ano. Ainda assim, diversos produtores atuam com baixo nível tecnológico.

Na fase de engorda, as pós larvas ou juvenis são criadas até atingirem o peso médio comercial. O peso unitário varia muito, de acordo com as necessidades dos consumidores ou das possibilidades dos criadores. São comercializados desde camarões pequenos, com peso em torno de 18 g até bastante grandes, com peso em torno de 80 g.

No Espírito Santo foi criada uma cultura de consumo de camarões de água doce grandes, com pesos em torno de 40 g. No entanto, a produção dos pequenos ou de peso médio, cerca de 25 g pode ser muito interessante. O preço de venda destes animais tem variado de R$ 35 a R$ 80 o quilo, de acordo com o peso unitário e da quantidade comprada.

Os camarões podem ser comercializados frescos, resfriados ou congelados. São raras as situações de comercialização dos camarões vivos. Além disso, podem ser vendidos inteiros, aparados (quando os pereiópodos, antenas, antênulas e ponta do rostro são cortados, descabeçados (quando se retira o cefalotórax dos animais) ou no formato de filé (quando os animais, além de serem descabeçados, são “descascados ” com a retirada dacarapaça).

Para realização dos processamentos, o produtor deve se atentar para a legislação vigente que regula tanto sobre a estrutura quanto sobre técnicas de processamento e conservação. Uma outra opção é a venda dos animais para indústrias de processamento. Praticamente todo o produto capixaba é comercializado no mercado interno. Os camarões são vendidos para mercados, bares, restaurantes, buffets e também diretamente ao consumidor final.

Formação técnica

Para o desenvolvimento da carcinicultura de água doce no Espírito Santo é importantíssimo que os produtores se profissionalizem, principalmente aqueles que realizam a fase de engorda. A falta de profissionalismo é um grande gargalo para a atividade. Para isso, é importante a capacitação profissional e a assistência técnica especializada.

Muitas pessoas que desejam produzir camarões de água doce não se atentam para condições básicas para a realização da atividade. Uma das principais a ser analisada é a variação da temperatura na região onde a propriedade está localizada.

Os camarões crescem “bem ” com a temperatura da água ao redor de 28 ou 30°C. De 22 a 28°C os camarões crescem menos, mas ainda crescem. Em temperaturas abaixo de 22°C, os camarões começam a parar de comer, ou seja, não crescem. Temperaturas inferiores a 18° C podem gerar mortalidade.

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