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Agronegócio e agricultura familiar: conceitos e importância no dia a dia das pessoas

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em 12/03/2020 às 16h35

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Agronegócio e agricultura familiar: conceitos e importância no dia a dia das pessoas

Enio Bergoli é engenheiro agrônomo do Incaper, especialista em Administração Rural e ex- secretário de Estado da Agricultura. (Foto: *Divulgação)


O termo agribusiness, traduzido em português para agronegócio, foi desenvolvido por professores da Universidade de Harvard em 1957 e tinha como objetivo comprovar que o setor agropecuário não era mais um elo isolado da economia, chamado de “primário”. Pelo contrário, desde aquela época já era clara a percepção de que a produção agrícola estava fortemente conectada a indústrias fornecedoras de insumos e bens de produção e àquelas relacionadas ao beneficiamento e transformação das matérias-primas agrícolas.

O agronegócio começa com insumos de ponta, tem como base a produção agropecuária e chega ao final na forma de alimentos, bebidas, roupas, fibras, energia limpa e uma série de produtos acabados que desmontam completamente a ideia simplista da divisão da economia nos setores primário (agricultura), secundário (indústria) e terciário (serviços). As cadeias produtivas do agronegócio incluem tudo isso.

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A conceito de agricultura familiar é mais recente. Surgiu no início deste milênio e foi formalizado com a Lei 11.326, do ano de 2006. A partir deste marco, a agricultura familiar é caracterizada pela pequena área dos estabelecimentos rurais, com até quatro módulos fiscais de terra, por utilizar predominantemente a mão de obra da própria família, por ter a maioria da renda familiar advinda das atividades agrícolas e pela administração do empreendimento ser realizada pelo próprio núcleo familiar.

No Brasil, infelizmente é frequente a afirmação de que o agronegócio é realizado por grandes produtores (e agroindústrias) e a agricultura familiar representaria um outro modelo mais sustentável e autônomo ou independente. Desde a sua origem, o termo agronegócio nunca esteve associado à grande produção, como afirmam em nosso país. Qualquer que seja a escala ou o tamanho do agricultor, uma necessidade de sobrevivência no mercado acaba por inseri-lo quase sempre nas cadeias agroindustriais sofisticadas, que envolvem tecnologia, processamento, marketing, abastecimento, distribuição e crédito, por exemplo. Atualmente,
a política agrícola mais importante para o agronegócio é a logística.

Nesse sentido, não há nenhuma relação de confronto entre os conceitos de agronegócio e agricultura familiar. O agronegócio considera o conjunto de todos os elos de uma cadeia produtiva que tem como base a produção agropecuária. Dá uma dimensão maior ao setor. Já a agricultura familiar é mais caracterizada por um tipo de público que atua no setor da produção rural. Portanto, trata-se de público, assim como os grandes e médios proprietários rurais, as grandes, médias e pequenas empresas agrícolas, arrendatários, parceiros, e tantos outros.

Contudo, o agricultor familiar é o segmento de público que tem a maior presença no rural. Em terras capixabas, 80,7 mil estabelecimentos rurais, de um total de 108 mil, são conduzidos pela agricultura familiar. São 3 propriedades a cada 4 com gestão e condução pelas famílias rurais. No Espírito Santo, a grande maioria dos agricultores familiares está inserida nas diversas cadeias produtivas do agronegócio capixaba, participando ativamente do mercado, pois produzem e comercializam de forma significativa os nossos principais produtos: café, frutas, hortaliças, leite, pimenta do reino, cacau, borracha, pimenta rosa, carne, ovos, dentre tantos outros.
Assim, o agronegócio, tendo como centralidade a produção agropecuária com a participação efetiva da agricultura familiar, está presente no dia a dia das pessoas. Quase tudo que se consome na alimentação vem da agricultura, sejam produtos de origem animal ou vegetal, ao natural ou processados. São frutos, sucos, carnes e embutidos, café, leite e lácteos, hortaliças, conservas e muitas bebidas. Mas, o setor não está somente relacionado com o que se leva à mesa para refeições. Participa ainda na produção de madeira para móveis e construções, fibras para os vestuários, além de gerar novas fontes de energias renováveis, em contraponto às fontes fósseis, que esgotam os recursos naturais.

Na visão de agronegócio, o setor revela-se como o segmento mais importante para 61 dos 78 municípios do Espírito Santo, em termos de geração de emprego e renda. Responde por 22-23% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado e ocupa um a cada três ou quatro trabalhadores capixabas. Para se ter uma ideia, na visão isolada de agricultura, analisando-se sob a ótica simplista do setor primário, a participação no PIB do Espírito Santo é inferior a 4%.

O agronegócio é proporcionalmente mais importante na socioeconomia aqui no Espírito Santo do que é comparativamente para o Brasil. Nesse sentido, o fortalecimento das diversas cadeias produtivas com base em matérias-primas agrícolas e o estabelecimento de políticas públicas sólidas para a agricultura familiar, são estratégias para que conquistemos o tão sonhado desenvolvimento regional equilibrado, com oportunidades para todos os capixabas. Em decorrência, mais bem-estar, qualidade de vida e alegria no campo e nas cidades!

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