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Viana: bem-vindo à Capital da Logística e do agro!

Município de extrema relevância no transporte de cargas busca o mesmo status no agronegócio com orgânicos, cana, mel e até lúpulo

por Leandro Fidelis

em 16/06/2021 às 7h00

13 min de leitura

Viana: bem-vindo à Capital da Logística e do agro!

*Foto: Tatiana Caus/Acervo Incaper

Sempre pesou para Viana a fama de “Cidade dos Presídios”. Sem desmerecer o sistema prisional capixaba, é quase uma injustiça com o terceiro município da região metropolitana do Estado em extensão (294,9 km²). Há três anos, uma lei reconheceu Viana como a “Capital Estadual da Logística” (Saiba mais abaixo). E o município de extrema relevância no transporte de cargas busca o mesmo status no agronegócio. Até os presidiários vão contribuir para isso.

Com 70% do território em área rural, Viana quer se tornar a “Capital dos Orgânicos” do Espírito Santo. A consolidação do sistema de orgânicos está em andamento, envolvendo desde o trabalho dos internos do presídio à produção propriamente dita. 

Segundo informações da Prefeitura de Viana, serão beneficiadas cerca de 9 toneladas de lixo orgânico da Ceasa no presídio, que ainda terá plantação de milho orgânico e quatro tanques de peixes, proteína 100% orgânica, tratada com o composto produzido na própria penitenciária.

“Tudo o que for beneficiado atenderá em primeiro lugar nossos agricultores e o excedente irá para a Grande Vitória”, afirma o secretário de Agricultura de Viana, Antônio Cesar Lázaro.

A proposta dos orgânicos implica também na mudança do sistema de compras, valorizando mais o agricultor agroecológico. Viana conta com cerca de 32 produtores agroecológicos. O município vai oferecer cursos em parceria com o Senar-ES para o beneficiamento das produções e certificações, além de horas máquinas mais baratas. 

O projeto é extenso e inclui ainda a criação e a ampliação da Feira do Produtor Rural e de Orgânicos. Nos 100 primeiros dias de governo, foi inaugurada a Feira do Produtor Rural de Canaã. Em junho, foi a vez da feira do bairro Industrial. Até dezembro de 2021, os bairros Universal e Vila Bethânia também terão uma Feira do Produtor Rural. “A maioria absoluta dos produtos comercializados nas feiras são orgânicos”, garante Lázaro.

Dentro do plano de tornar Viana a “Capital dos Orgânicos”, a Secretaria Municipal de Agricultura pretende realizar o Censo Rural, com visita a 1.500 propriedades no campo, adequar o cardápio da merenda escolar, criar o “Selo Viana” para doces e produtos da agroindústria de origem agroecológica, efetivar o projeto de psicultura com peixes e camarão orgânico e implementar o mestrado em agroecologia no Ifes. 

O lançamento da parceria pública-privada para o cultivo de lúpulo, em maio, foi um passo importante (Confira mais detalhes abaixo), uma vez que todo o processo para consolidar o sistema de orgânicos atrasou por conta da pandemia da Covid-19, informou o secretário. O comitê do sistema de agroecologia de Viana é formado pela prefeitura, por meio da Secretaria de Agricultura, Ministério Público, Câmara Municipal, secretarias de Estado da Agricultura e da Justiça, Ceasa, Ifes e Incaper.

Antônio Cesar Lázaro, secretário de Agricultura de Viana: “A maioria absoluta dos produtos comercializados nas feiras são orgânicos”. (*Foto: Tainá Campos)

 

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Cana-de-açúcar

Banana, cana-de-açúcar, orgânicos e mel estão entre os destaques da produção agropecuária de Viana. A maior parte dos canavicultores são do Assentamento Rural Jucuruaba. Estima-se que quase 90% da cana utilizada para preparar caldo de cana na Grande Vitória saia de Viana. A canavicultura movimenta R$ 3 milhões por ano, sendo 81% da venda da cana raspada, conforme levantamento da Secretaria Municipal de Agricultura.

Atualmente, o município conta com aproximadamente 30 unidades familiares que têm a cana-de-açúcar como principal atividade e cerca de 90 pessoas atuando de forma direta. Sete comunidades se destacam (Jucuruaba, Jucú, Camboapina, Pedra Mulata, Santa Clara, Piapitangui e Tanque), totalizando aproximadamente 126 hectares da cultura, uma média de 4,4 ha por família. A produtividade média é de 33 toneladas por hectare. 

De acordo com a Secretaria, 90% da cana-de-açúcar produzida em Viana tem por finalidade o de caldo. Outros 10% são destinados à produção de cachaça, utilizando cana proveniente de outros municípios, pelo fato de possuírem maior teor de sacarose.  

A comercialização da cana é realizada em feixes contendo 12 unidades, pesando aproximadamente 20 a 22 kg e 80% da comercialização é feita de forma direta pelos produtores na região metropolitana do Estado, e os outros 20% são vendidos para atravessadores. Aproximadamente 46% dos agricultores comercializam a cana suja, 41%, a cana raspada e 13%, nas duas modalidades.  

Um dos problemas enfrentados pelos canavicultores é a broca da cana-de-açúcar, com maior incidência de danos no verão, período que coincide com o auge da colheita. Aproximadamente 60% dos produtores realizam o controle da praga, sendo que a maioria o faz utilizando a vespa predadora Cotesia flavipes, adquirida em laboratório do interior de São Paulo. O procedimento é intermediado diretamente pelo Incaper, em parceria com produtores de Jucuruaba.  O descarte de cana brocada chega a 30% do total colhido no município.

Nos últimos anos, quase 10% dos produtores estão utilizando produtos químicos (fumacê) nos canaviais. É o caso de Julio Lodi, de Jucuruaba. “Tem época que a broca ataca mais. Nós fazemos o controle com um termobilizador (fumacê), utilizando óleo mineral mais o remédio de matar insetos”, conta. Alguns produtores relataram que o controle biológico não foi eficaz, por várias suposições ainda não confirmadas.

Ernandi Lodi (59), ao centro, e os filhos Julio (31) e Luis (24) produzem cana-de-açúcar há dez anos, na localidade de Jucuruaba. Por mês, a produção é de 15 toneladas já beneficiadas, que são comercializadas com lanchonetes da Grande Vitória que servem caldo de cana. O problema com falta d’água, que acomete 20% dos produtores do município, segundo levantamento da Agricultura, no caso dos Lodi foi resolvido com a instalação de um poço artesiano de 30 metros de profundidade. “Supriu nossas necessidades”, diz Julio. Para o canavicultor, viver do agro no município metropolitano é um privilégio, apesar da concorrência desleal. “É bom que estamos muito perto de toda a Grande Vitória. O consumo de caldo de cana é bem forte aqui, mas às vezes não temos a valorização dos nossos produtos por causa da concorrência desleal, mas isso é normal em todo comércio”. (*Fotos: Divulgação)

 

 

‘Difícil encontrar pessoas interessadas no trabalho rural’- Há 25 anos na atividade, Adriano Lodi (47) dedica 2 hectares à produção de cana na localidade de Jucu. Além da cultura, tem cacaueiro em formação e seringueiras. Segundo ele, a diversificação recente na propriedade visa sobrevivência no mercado, para ele saturado por conta da concorrência e também em função do baixo consumo do caldo de cana no comércio decorrente da pandemia. Lodi aponta ainda problemas com a mão de obra. “Tenho dificuldade de encontrar pessoas interessadas no trabalho rural e qualificadas operar máquinas agrícolas”, diz.

‘Terra de Passagem’- A importância logística de Viana na Grande Vitória já foi tema de pesquisa científica. Em “Terra de Passagem”, os autores Élen Rúbia Silva e Juliano Honorato afirmam que o transporte de cargas no município, hoje cortado por duas importantes rodovias brasileiras (BRs 101 e 262), ocorre desde séculos passados. Em 2018, uma lei estadual considerou Viana a “Capital Estadual da Logística”. Além do transporte rodoviário e ferroviário, a proximidade com os portos de Vitória, Capuaba e Tubarão colocam o município imbatível neste setor.  


Alinutri vai investir R$ 30 milhões em inovação e expansão

No mercado de alimentos desde 1987, a Alinutri Nutrição Animal (ex-Nutriave) anunciou que irá investir R$ 30 milhões e abrir 374 vagas de emprego até 2022, dentro do plano de ampliação e inovação tecnológica do complexo industrial em Viana. Atualmente, a indústria conta com cerca de 700 funcionários.

Localizada em uma área de mais de 200 mil m² do município, a Alinutri atua na produção de rações para cães, gatos, pássaros e animais de produção. O investimento em capacitação dos profissionais e em novas tecnologias é uma marca da indústria. Outro diferencial é o logístico. Do centro de distribuição sai frota própria para entrega dos suplementos e atuação em todo o território nacional.


Projeto-piloto para produção de lúpulo 

A Prefeitura de Viana assinou, em maio, o termo de parceria público-privada com a empresa Hopfenbüge, de Domingos Martins, única produtora de lúpulo certificada no Espírito Santo. A assinatura é um passo importante para o cultivo do primeiro campo de lúpulo no município. O insumo é utilizado na produção de cerveja e considerado de alto valor comercial. 

O projeto-piloto será coordenado pela Secretaria de Agricultura de Viana, encarregada de disponibilizar um agrônomo para acompanhamento, preparo do solo, irrigação e fornecimento de composto orgânico. “A prefeitura é uma aceleradora do fomento do cultivo de lúpulo no município. Ela fará a interlocução entre o produtor e a empresa, que dará a consultoria”, explica o secretário Municipal de Agricultura, Cezar Lázaro.

O gerente de Desenvolvimento Rural, Francisco Sizino, acrescenta que o cultivo da planta acontecerá em uma propriedade de agricultura familiar. “A ideia é fazermos de Viana uma referência na produção de lúpulo no Estado”, disse. 

Os proprietários da Hopfenbüge, Rovena Buge e Eduardo Craveiro, contam como será a parceria. “Será uma consultoria para iniciar a produção do lúpulo em Viana. Vamos ajudar a montar o campo e também acompanhar o produtor rural, para que ele desenvolva a produção da planta em sua propriedade”, diz Craveiro.

A empresa também irá fornecer as estacas necessárias para o plantio, além de uma análise de como a planta vai reagir ao microclima da região. “O primeiro passo será conhecer a área destinada ao plantio para estabelecer o plano de cultivo. Depois, vamos acompanhar as estacas para ver se elas vão se desenvolver bem no campo”, explica Rovena.

“O Espírito Santo apresenta o maior crescimento médio de novas cervejarias. Temos um mercado imenso a ser explorado e essa união de forças tem tudo pra ser um sucesso”, completa.

O produtor rural Guilherme Lube vai cultivar lúpulo na sua propriedade. Para ele, a iniciativa é importante para o município. “Nós estamos inovando e eu acredito que Viana tem um bom potencial. No Estado só tem um produtor desse insumo e, com o projeto, seremos pioneiros aqui no município”.

Polo

Sede da primeira cervejaria artesanal do Espírito Santo, a Else Beer, Viana terá o primeiro Polo Agroindustrial da Cerveja Artesanal do Estado. A prefeitura anunciou que irá disponibilizar 12 mil m² de área para instalação inicial de quatro cervejarias nas regiões de Pedra da Mulata, Araçatiba, Jucu e Jacarandá. Também haverá espaço para instalações de pousadas, restaurantes, agroindústria e laticínios. O processo de implantação começa ainda neste ano e a previsão é de mais dois anos para toda a estrutura deve ficar pronta. (*Com informações da assessoria da PMV)


 

Produção de mel é destaque

Viana se destaca como produtor de mel de abelhas sem ferrão, atividade conhecida como meliponicultura. Duas espécies que estão em perigo de extinção no Espírito Santo, a Uruçu-Amarela e a Jataizão (também conhecida como Borá) são preservadas na propriedade de Guilherme Wilson Cardoso, na localidade de Jucuruaba, zona rural de Viana. O mel da abelha Jataizão é produzido em menor escala, mas tem maior valor de mercado. Cada litro pode chegar a R$ 150,00. 

O município conta também com a “Casa do Mel”, inaugurada em dezembro de 2018, sede da Associação Vianense de Apicultores (Aviapes), na Fazenda Experimental do Incaper, também em Jucuruaba. A associação é composta por 20 associados distribuídos em oito comunidades do município, que trabalham com abelhas africanizadas do gênero Apis. Com 175m², o espaço serve para o beneficiamento, desoperculação, centrifugação, envase e Certificação Sanitária do Mel.

A Aviapes produz, por ano, aproximadamente 20 toneladas de mel, que são comercializadas em Viana. A Casa do Mel é o primeiro estabelecimento de Viana registrado no Serviço de Inspeção Municipal (SIM).
 

 

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