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Cooperativismo

Selita 80 anos: uma história construída pelos cooperados

A cooperativa mais antiga do Espírito Santo completa 80 anos em 2018 e mostra como construiu sua história baseada no cooperativismo desde sua fundação

por Redação Conexão Safra

em 21/10/2018 às 0h00

7 min de leitura

Selita 80 anos: uma história construída pelos cooperados

*Elisângela Teixeira


Aos 82 anos de idade Brasilino João Mothe esbanja saúde e animação. Casado, pai de três filhos, tem uma propriedade de 11 hectares na localidade de Garrafão, em Itapemirim, cidade situada no Sul do Espírito Santo. Ele é um dos 1.868 sócios da Selita, a mais antiga cooperativa ativa do Espírito Santo que completa 80 anos neste mês de outubro.


Sr. Brasilino é cooperado da Selita há 56 anos e conta que iniciou sua vida na cooperativa incentivado pelo pai. “A propriedade era dele, passou para mim e eu comecei com poucas vacas. Sempre gostei de cuidar da terra, dos animais, da vida simples. E com a cooperativa eu consegui fazer o que gosto e manter minha família. Hoje meu filho toca a propriedade, mas eu ajudo a tirar leite, caminho com ele, ando a cavalo. Estou de idade, mas não morri. Quero viver assim até chegar a minha hora ”, conta o cooperado com um sorriso no rosto.


A história do sr. Brasilino é semelhante à de muitos produtores rurais do Espírito Santo. “A Selita é a minha única fonte de renda ”, revela o aposentado, cuja produção é de 150 litros de leite por dia. Este também é o perfil de 80% do quadro de associados da Selita, que creditam à cooperativa a possibilidade de continuarem na roça e tocarem a vida dessa forma.


“Desde sua fundação a Selita tem o espírito do cooperativismo. Quando o sr. Djalma Eloy Hees veio com essa ideia e aqueles 25 produtores se uniram, já tinham isso em mente ”, relembra o atual presidente da Selita, João Marcos Machado. “Isso faz com que sempre tenhamos o coletivo como foco principal, que estejamos essencialmente sempre pensando em todos os nossos associados ”, completa.


Para quem não sabe Djalma Heloy Hees foi o idealizador da Selita e um dos mentores do então projeto nos idos dos anos de 1930. Ele foi engenheiro agrônomo e a pedido da secretaria de Agricultura do Estado, avaliou todas as chances de se criar uma cooperativa na região. Cinco anos após sua chegada à Cachoeiro de Itapemirim, nascia a Selita, mais precisamente no dia 22 de outubro de 1938.


Desde então, a Selita vem construindo uma trajetória de sucesso pautada pelo trabalho de dezenas de produtores, que ao longo destes 80 anos contribuíram em maior ou menor proporção, para que ela se tornasse reconhecida pela sua capacidade de produção, produtos de alto padrão e cuidado com os cooperados. “A história da Selita foi feita pelos seus próprios cooperados ”, conclui João Marcos.


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O aposentado Brasilino João Mothe é cooperado da Selita há 56 anos. Na foto ao lado do marco zero da nova indústria da cooperativa durante as comemorações de 80 anos. (*Foto: Elisângela Teixeira)


História

A história da Selita se confunde com o próprio desenvolvimento da região Sul do Espírito Santo e foi marcada por vários momentos importantes. Sua primeira sede foi construída na Av. Jones dos Santos Neves, em Cachoeiro de Itapemirim após um investimento do Governo do Estado de 250.000$000 (Duzentos e cinquenta contos de réis). Nesta época a coleta era feita no lombo de animais, carroças e alguns poucos caminhões e entregue na usina, cuja capacidade era de dois mil litros de leite por dia. As vendas eram feitas em carrocinhas puxadas por burros.


De lá para cá muitos investimentos foram feitos e outras mudanças ocorreram. Em 1977 uma nova sede da Selita foi inaugurada e é onde ela está até hoje. Na região haviam poucas casas e o espaço se mostrava ideal para acolher a nova usina, o que hoje já não é mais possível devido ao crescimento da própria cidade e dos bairros no entorno.


Pensando no futuro, a cooperativa adquiriu um novo terreno de 1.250.000 m² da região de Safra, próximo a BR 101, dando um salto na capacidade de recepção de leite, que hoje é de 320 mil litros de leite por dia, para mais de um milhão de litros de leite por dia. O marco zero da nova indústria foi inaugurado neste sábado (20 de outubro), pelo Governador Paulo Hartung, ao lado do presidente da Selita, João Marcos e dezenas de cooperados e colaboradores. A previsão de entrega da obra é em 2021.


(*Infografia: Luan Ola)



O futuro

A gestão da Selita já há alguns anos vem sendo feita com certa austeridade e sempre de olho no futuro. Os conselhos administrativos dos últimos anos têm sido compostos por cooperados cujo perfil empreendedor tem colaborado para que ela dê saltos cada vez maiores em direção ao que está por vir.


Prova disso é o planejamento estratégico desenvolvido desse 2008 sob a orientação de especialistas da Fundação Dom Cabral, e dos investimentos realizados, seja na nova indústria, na valorização dos cooperados ou na implantação de projetos para aumento da capacidade de produção, qualidade do rebanho e até financiamentos para melhoria das propriedades dos associados.


Porém, se essa história sempre foi contada pelos sócios, não poderia deixar de se pensar em sucessão ou em dar condições para que esses projetos tenham continuidade. Por isso mesmo, a Selita vem discutindo amplamente e incentivando a entrada de novos produtores, em sua maioria filhos de cooperados.


&Eacute, o caso do cooperado Fioravante Cypriano Neto, de 33 anos, que se associou à Selita em abril deste ano. Ele é filho do produtor Darcy Cypriano, de Cachoeiro de Itapemirim, que esteve na cooperativa por 50 anos. “Cresci vendo meu pai cuidando de vaca. Agora após o falecimento dele eu toco a propriedade e coloco em prática todo conhecimento que recebi ”, conta Fioravante.


Ele é formado em Farmácia, mas é nas terras da família que ele se realiza. “Acredito que o aprendizado com meu pai e com a própria cooperativa foi fundamental para que eu escolhesse essa vida. Juntos participamos de vários programadas oferecidos pela Selita, como o 120+ Leite, Dia de Campo e mais recentemente o de Fertilização In Vitro (FIV). Acho importante unir conhecimento com as novas tecnologias para poder seguir em frente. Neste ponto a Selita tem sido muito feliz, pois ela se preocupa em manter o homem do campo em sua atividade ”, assinada o jovem produtor.


“Eu acredito no cooperativismo em sua essência. Justamente por ser uma atividade que pensa no coletivo, na divisão dos lucros e no trabalho de todos seus associados. Quanto a sucessão penso que é importante aos pais darem liberdade e ouvirem as ideias dos filhos. Eu já administrava a propriedade do meu pai desde 2010 e ele sempre esteve aberto a me ouvir, ao que eu poderia trazer de novidade, isso sempre aliado ao conhecimento e a experiência dele. Talvez esse seja o principal motivo de nossa parceria ter dado tão certo, tanto entre meu pai e eu, quanto entre nós e a Selita ”, finaliza.


&Eacute, importante aos pais darem liberdade e ouvirem as ideias dos filhos, sempre aliado ao conhecimento e a experiência deles. Talvez esse seja o principal motivo de nossa parceria ter dado tão certo ” (*Foto: Divulgação)


Nesta entrevista, realizada durante as comemorações de 80 anos da Selita, o presidente da OCB/Sescoop-ES, Pedro Scarpi fala sobre papel da cooperativa e sua representatividade no Espírito Santo.


Social

Além dos cuidados com os cooperados, a Selita também investe em áreas sociais. Um deles é o Projeto Social Frei João, do bairro Alto Eucalipto, em Cachoeiro de Itapemirim, que atende cerca de 250 meninos e meninas carentes do bairro e em risco social, com aulas de futebol e balé. O projeto tem cinco anos de existência e atualmente conta com o apoio da Selita, em parceria com o Sicoob, que ajuda com uniformes e transporte para participação dos jovens em torneios de futebol. No dia do aniversário de 80 anos, as meninas do balé fizeram uma apresentação especial, que emocionou a todos os convidados do evento.


(*Foto: Leandro Fidelis)


Curiosidades


  • A Selita tem hoje 400 colaboradores, em sua maioria cooperados ou filhos de cooperados

  • Ela gera mais de 15 mil empregos direta ou indiretamente

  • Possui 1.868 cooperados

  • Atua em 52 municípios do Espírito Santo

  • Oferece ao mercado mais 100 produtos derivados do leite, como queijos, doces, iogurtes e manteigas

  • Já conquistou mais de 30 prêmios entre concursos de qualidade e de recall de marcas

  • Está entre as 200 maiores empresas do país segundo ranking da Revista Exame

  • Foi eleita pelo Sistema OCB nacional como cooperativa de menor risco de crédito do país, entre 79 cooperativas de todo Brasil

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