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Coronavírus

Mudanças de hábitos de consumo durante a quarentena podem permanecer no pós-isolamento

por Assessoria de imprensa Cepea

em 04/09/2020 às 11h44

4 min de leitura

Mudanças de hábitos de consumo durante a quarentena podem permanecer no pós-isolamento

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Durante a quarentena imposta pela pandemia de covid-19, o consumidor brasileiro passou por mudanças, moldadas especialmente por preocupações relacionadas à saúde, segurança e a finanças. E algumas das transformações ocorridas nesse período podem continuar no pós-isolamento, especialmente no tocante à alimentação.

As principais mudanças verificadas durante a quarentena são o aumento das refeições feitas no lar (que, consequentemente, concentra as compras de alimentos no varejo tradicional), a busca por refeições rápidas e por praticidade (o que beneficia os
deliveries, tanto do varejo quanto de alimentos prontos) e também a procura por alimentos indulgentes (que trazem prazer), como “recompensa ” ao estresse trazido pelo isolamento.

Estas mudanças impactam diretamente o mercado de frutas e hortaliças, beneficiando as vendas desses produtos no varejo, mas limitando a comercialização no
food service
&ndash, já que este segmento teve sua comercialização reduzida, além de ter a maioria das vendas focada em
fast foods.

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Segundo dados da Nielsen, as vendas de HFs no varejo cresceram no primeiro semestre de 2020 frente ao mesmo período de 2019. Os destaques são as vendas de saladas e vegetais, que tiveram expressivo aumento de 211%. No caso das frutas, a elevação foi de 9,2%, ao passo que a comercialização de tubérculos e raízes caiu 43,5% na mesma comparação.

Quanto a restaurantes e bares, apesar de não haver dados específicos relacionados a HFs, o faturamento total caiu, em média, 60,4%, quando comparado o período de março a julho frente ao pré-pandemia.

O principal impacto da queda do
food service
no setor de HF é com relação aos restaurantes por quilo, visto que são os com maior diversidade e quantidade, principalmente de hortaliças &ndash, as frutas também costumam ser ofertadas em sobremesas e sucos, mas com menos opções. Esses tipos de restaurantes, inclusive, devem ter as maiores dificuldades de retomada das atividades no pós-quarentena, visto que a higienização dos utensílios precisará ser constante caso não optem por alocar um funcionário adicional somente para servir.

Além destas mudanças, é importante lembrar que as restrições econômicas também impactam o setor de HFs. Conforme o Boletim Focus de 21 de agosto de 2020, a estimativa é de que o PIB
per capita
em 2020 tenha retração de 5,5%, e levando-se em conta os dados da última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2017-18), a cada 1% de queda na renda do brasileiro, o consumo geral de frutas e hortaliças recua 0,573% (dados calculados por Vaz e Hoffmann em 2019, com base na elasticidade-renda). Assim, estima-se que, se a renda do consumidor cair, em média, 5,5% em 2020, o consumo médio de frutas e hortaliças no lar tende a recuar cerca de 3%.

É claro que nem todos os brasileiros foram impactados da mesma forma. A Nielsen divide consumidores em dois perfis principais: os relativamente não afetados e os que tiveram renda e despesas reduzidas. Enquanto o primeiro grupo consegue manter seu padrão de compra (buscando, inclusive, reproduzir suas experiências de alimentação em restaurantes dentro do lar), o segundo tem mais dificuldades, com necessidade de priorizar gastos mais essenciais.

No setor de HFs, é nítida essa diferença. As redes de hortifrútis
premium
registram aumento no faturamento com frutas e hortaliças frescas. Ao mesmo tempo, observa-se queda nas vendas das Ceasas, que têm supermercados de pequeno e médio portes, sacolões, feiras livres e restaurantes como clientes principais.

Nesse sentido, cautela deve continuar sendo a palavra-chave dos consumidores nos próximos meses, tanto em relação à saúde quanto à economia. O período de isolamento praticamente passou e, agora, inicia-se a consolidação do distanciamento social, com maior flexibilização e programação para reabertura de bares e restaurantes. Porém, mesmo após o fim da quarentena mais rígida, brasileiros pretendem manter alguns hábitos enquanto a pandemia persistir: alimentação dentro do lar com maior frequência, compras mais cautelosas e seletivas, retomada lenta do
food service
e de hotéis (importantes consumidores de algumas frutas, como mamão e melão, não só no Brasil como no exterior) e manutenção das compras on-line, priorizando uma alimentação mais saudável.

De modo geral, todas as pesquisas indicam que a consciência de hábitos mais saudáveis está relacionada ao consumo regular de frutas e hortaliças. O grande desafio do setor é transformar em vendas essa consciência de que frutas e hortaliças fazem bem.

*Fernanda Geraldini Palmieri é pesquisadora da área de HF do Cepea

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