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Entrevista

Infraestrutura, pesquisa e extensão: as propostas do governador reeleito para a agricultura do ES

por Fernanda Zandonadi

em 10/11/2022 às 15h15

10 min de leitura

Infraestrutura, pesquisa e extensão: as propostas do governador reeleito para a agricultura do ES

Foto: divulgação

Reeleito com mais de 1,1 milhão de votos, Renato Casagrande é o nome que estará à frente da administração do Espírito Santo nos próximos quatro anos. Ele, que considerou essa uma das campanhas mais difíceis que já fez na vida, avalia que o trabalho e a confiança falaram mais alto ao capixaba do que a ideologia. O momento, agora, é de finalizar o mandato para chegar em 2023 com novos projetos para o Estado. 

O secretariado ainda não foi definido, explica o governador, mas será uma mistura de continuidade e renovação. Na agricultura, Casagrande pretende fortalecer instituições de pesquisa, como o Incaper, e descentralizar os licenciamentos ambientais. Além disso, quer incentivar os pequenos produtores a empreenderem e vê o turismo como um ótimo gerador de emprego e renda. 

 

Conexão Safra- O período de campanha foi cheio de notícias falsas, muitas delas, caluniosas. Como que o senhor avalia o processo até chegar à reeleição?

Casagrande- Foi a campanha mais dura que eu já fiz na minha vida. A mais violenta, mais dura, mais difícil. O nosso adversário foi de um movimento político forte, que é o bolsonarista. Mesmo em um Estado onde o bolsonarismo é majoritário, conseguimos convencer que éramos o melhor para o Espírito Santo. As pessoas refletiram e fizeram a escolha que dava mais estabilidade, mais segurança. Então, assim, nós conseguimos. Aqui no Espírito Santo, Bolsonaro teve mais de 58% dos votos e minha aliança foi feita, numa coligação formal, com o Partido dos Trabalhadores. E conseguimos transmitir essa segurança para aqueles que votaram no presidente Bolsonaro, pois temos uma história de diálogo com a sociedade, independentemente de posição política. Temos, eu e Ricardo Ferraço (vice-governador eleito), um histórico de resultado de governo. 

CS- A história dos seus bons governos também foi um ponto muito positivo, não é?

Casagrande- O meu governo foi muito bem avaliado. E foi importante ter esses bons resultados, equilíbrio e diálogo. Fomos o único Estado do Brasil em que o presidente da República, sendo mais forte, não puxou o seu candidato ao governo do Estado. Foi um feito importante, um feito histórico e que mostra também equilíbrio majoritário da população capixaba. E eu quero dizer a quem não votou em mim que agora sou governador de todos os capixabas e vou continuar trabalhando pelo bem do nosso Espírito Santo.

CS- A eleição foi muito polarizada, mas o senhor falou durante a campanha e continua a falar sobre um governo para todos, e que vai trabalhar para isso.

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Casagrande- Eu vou trabalhar muito para isso. O trabalho foi fundamental para me dar a maioria dos votos. Mas, nesta eleição, o trabalho teve um valor menor quando comparado com a ideologia superficial debatida na política nacional. As pessoas procuraram saber se a pessoa apoiava Lula ou Bolsonaro, se estava em um partido de esquerda ou de direita e olharam menos os resultados. Aquele ditado popular de que “não importa a cor do gato, o que importa que ele pegue o rato” não funcionou para todo mundo nesta eleição. Então, o trabalho teve valor, mas a ideologia também pesou muito. De todas as eleições que eu participei desde 1998, essa foi a eleição com um componente ideológico mais acirrado. Não um componente ideológico racional e profundo, mas um componente ideológico em que as pessoas xingavam as outras de comunista sem saber o que é comunismo, de genocida, sem saber o que é genocida. 

CS- Foi uma eleição acirrada e o senhor teve a vitória…

Casagrande- Sim, mesmo nesse ambiente os capixabas mostraram o equilíbrio da sua posição e a preocupação com o presente e com o futuro do Estado, do Espírito Santo. Então eu saberei, naturalmente, como sempre soube, governar sem rancor, sem ressentimento. Apoiarei todos os municípios, independentemente de eles terem votado majoritariamente em mim ou não. Vamos continuar fazendo investimentos fortes nas cidades, porque eu compreendo que as pessoas que estiveram, por alguma razão, sem conseguir enxergar o feito do governo, com o tempo vão enxergar.

CS- Essa polarização que aconteceu no Espírito Santo é reflexo do que acontece em Brasília e no restante do Brasil. O senhor tem anos de política. Poderia fazer uma leitura do cenário do país hoje?

Casagrande- Precisamos de paz. E a paz virá com as referências e lideranças políticas pregando e praticando a paz. É bom que o líder político, o líder religioso, o líder de uma comunidade e o líder de uma família preguem a paz, porque hoje em dia a gente vê muita gente pregando a violência. Agora mesmo tem um resultado eleitoral, num sistema eleitoral reconhecido no mundo todo, auditado e fiscalizado por todos. E tem algumas pessoas nas ruas, nas rodovias, nas BRs, fechando a passagem, impedindo o direito de ir e vir. É uma manifestação óbvia de incentivo à violência. Se você perdeu a eleição, vá para a oposição. Se você ganhou a eleição, vá trabalhar. Eu posso falar isso porque ganhei a eleição e já perdi outra em 2014. Quem não concorda comigo e não quer trabalhar junto, vá para a oposição agora, sem praticar atos de violência. Tenho certeza que o presidente Lula vai ser um líder que vai dirigir suas palavras pregando a paz para pacificar o Brasil. Vou ajudar nessa direção. Agora, as pessoas têm que compreender que eleição você ganha e você perde. Você não pode participar de eleição achando que sua única alternativa é ganhar. Quem hoje não está satisfeito com o resultado eleitoral, repito, tem que ir para a oposição, mas não pode atrapalhar a vida das pessoas. 

CS- Governador, como o senhor pretende manter o diálogo com a Assembleia Legislativa e com a bancada federal?

Casagrande- Nós temos que ter estabilidade política. E cabe ao governador trabalhar pela estabilidade política. Quem quiser dialogar com o governo, o governo vai dialogar. Quem quiser brigar com o governo, aí não tem jeito de dialogar. Mas, independentemente do deputado, deputada, mesmo que não tenha sido eleito junto comigo, no meu projeto político, mas que quiser diálogo do governo, ajudar no projeto, ser prestigiado na sua base, estamos abertos. Vai ter todo o espaço comigo. Então a busca é pelo diálogo com a Assembleia Legislativa, com os deputados federais, com os senadores da República, com os prefeitos, ex-prefeitos, vereadores, com as entidades desse Estado e diretamente com a sociedade, seja por meio de reuniões, de conversas, de visitas ou por meio das minhas redes sociais. A eleição foi complexa e o que me deu vitória foi essa capacidade de dialogar. É a certeza e a segurança que as pessoas têm de que eu, no governo, vou me conduzir de forma equilibrada.

E governador, o seu secretariado já está definido? Quais são os nomes que ficam e há novos nomes?

Casagrande- A nova equipe de governo vai ter gente que está hoje, gente que atualmente está em outra posição e gente de fora que vai entrar. Então é um mix de continuidade e de renovação. Mas eu só vou decidir no mês de dezembro. Nesse mês de novembro vamos dar uma organizada final no governo, ver o que tem que fazer pra fechar bem esses quatro anos e poder começar bem os próximos quatro anos.  

CS- Será uma nova gestão, um novo governo? O que o senhor planeja para esses próximos quatro anos? 

Casagrande- Nós projetamos uma continuidade, uma ampliação dos investimentos em infraestrutura. Isso é fundamental. Mas nós também projetamos outras ações em áreas que são estratégicas para nós. Na área da educação, nós vamos ampliar as escolas em tempo integral, montar a escola do futuro, que vai preparar os jovens para o ambiente digital de alta tecnologia. Dá certo, os formando em programação de computador, em robótica. Nós vamos avançar muito. 

CS- Governador, e como fica a Secretaria de Agricultura? Como será essa aproximação com os produtores capixabas?

Casagrande- Será uma secretaria com uma equipe com conhecimento técnico na área, com capacidade de articular essa área. O vice-governador, Ricardo Ferraço, vai me ajudar nessa área. Teremos toda a condição e capacidade de formar uma boa equipe para dar continuidade a tudo de bom que estamos fazendo. Vamos fazer concurso no Idaf, Incaper e Iema, além de investimentos na Ceasa. Além disso, faremos cada vez mais investimentos em infraestrutura, porque o homem do campo depende e precisa desses investimentos.  

CS- Uma das reclamações dos pequenos produtores é a demora na liberação das licenças ambientais. Como o senhor pretende trabalhar isso?

Casagrande- Nós estamos estruturando isso. A gente já está instalando um sistema de licenciamento ambiental, de gestão de resíduos sólidos e de fiscalização. Terminaremos esse governo com sistemas implantados. Isso vai permitir que a gente ganhe velocidade nas análises do processo do Iema. Hoje, os 78 municípios do Estado já têm a capacidade de fazer o licenciamento ambiental, o que não existia antes. Então, aquelas atividades de impacto local, conseguimos resolver no próprio município, aliviar um pouco o trabalho do Iema, deixando o Instituto com aquelas análises mais estratégicas.

CS- Governador, a gente trabalha muito próximo ao produtor rural e também dos extensionistas e pesquisadores. Como o Estado vai investir mais em pesquisa e inovação na agricultura, que realmente podem tornar o Espírito Santo mais competitivo?

Casagrande- Nós vamos ampliar o custeio do Incaper, para que pesquisadores e extensionistas tenham mais capacidade de deslocamento. Melhorar a estrutura dos escritórios também é importantíssimo. Quando você tem um técnico, um engenheiro, um pesquisador que se envolve no que faz, ele gera muito desenvolvimento local, e isso é fundamental.

CS- A pandemia lá transformou muito as pessoas nos últimos anos, mudou a forma de fazer educação, das pessoas se relacionarem, mas ela também mudou a forma de fazer turismo. Como que o governo vai incentivar o turismo no Estado?

Casagrande- Vamos promover roteiros turísticos. A gente já faz isso, mas vamos promover cada vez mais para os capixabas e os visitantes de fora conhecerem e terem vontade de visitar nosso Estado. A promoção é fundamental. Outra ação nossa é a qualificação da mão de obra. Porque quando você vai a um restaurante, pousada, hotel, a uma comunidade, a uma agroindústria, se você for muito bem atendido, você volta. Teremos também mais linhas de crédito específicas para o empreendedor atuar na área. Há ainda os investimentos em infraestrutura. Se o local tiver boas estradas, saúde e segurança pública, ajuda a atrair mais turistas e gera emprego e renda à população local. O turismo é um excelente gerador de oportunidades.

CS- O senhor está indo para um terceiro mandato e, há anos, o Estado é gerido ou pelas suas mãos ou pelas do ex-governador Paulo Hartung. Em 2026, no entanto, vamos precisar de um novo nome, já que o senhor não poderá tentar uma nova reeleição e não há sinais de que Hartung queira voltar ao Executivo capixaba. Como o senhor está trabalhando essas lideranças? Há algum nome?

Casagrande- Ainda não estamos pensando em nomes. Todos falam que o Ricardo Ferraço poderá vir candidato a governador em 2026, mas ainda é tudo bola de cristal, vai depender muito do resultado do governo. Novas lideranças estão surgindo, existe de fato um ambiente de renovação. E me caberá fazer essa transição. É o meu papel fazer a transição política de forma segura para que o Estado possa manter essa estabilidade que nós tivemos nas últimas décadas.

CS- Governador, parabéns pela vitória, muito sucesso no próximo mandato e obrigada pela conversa…

Casagrande- Gostaria de agradecer a todos que manifestaram confiança no meu trabalho. Muito obrigado! É muito bom receber o apoio do povo capixaba para mais um mandato, pedindo a Deus saúde para podermos conduzir os quatro anos com bons resultados. Não é todo mundo que chega a três mandatos de governador. Então é uma honra e um orgulho. E uma gratidão. Gratidão sempre! E ao povo capixaba, então, meu muito obrigado!

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