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Indústria

Com startup finlandesa, Suzano entra no setor têxtil

Companhia vai produzir fibra sustentável a partir de celulose, estreando em um mercado de mais de 100 milhões de toneladas por ano

por Valor Econômico

em 26/02/2021 às 12h44

5 min de leitura

Com startup finlandesa, Suzano entra no setor têxtil

Referência global na produção de celulose de eucalipto, a Suzano se associou à startup finlandesa Spinnova para competir no mercado mundial de tecidos com uma fibra têxtil sustentável. Anunciada ontem, a joint venture construirá sua primeira fábrica na Finlândia, mediante investimento de € 22 milhões (pouco mais de R$ 147 milhões ao câmbio atual) dividido igualmente entre as sócias, e entrará em um mercado de mais de 100 milhões de toneladas por ano.

A ambição é se tornar um player relevante, competindo em custos, parâmetros técnicos e qualidade com o algodão e a viscose. E com apelo fortemente sustentável, já que o produto final é obtido a partir da celulose microfibrilada (MFC) – fibra de celulose reduzida a dimensões nano por processo 100% mecânico.

O novo tecido é fruto de inovação disruptiva e não leva químicos nocivos. Para a Suzano, representa a entrada em um novo negócio e o primeiro investimento industrial fora do Brasil. “Não é um produto de nicho. Queremos escala, custo e competitividade. Vamos jogar o jogo dos grandes ”, disse ao Valor o diretor de Tecnologia e Inovação da companhia brasileira, Fernando Bertolucci.

A capacidade de produção inicial não é revelada por razões estratégicas. Mas grandes marcas, de acordo com o diretor de Novos Negócios da Suzano, Vinicius Nonino, já testaram a fibra (que levará a marca Spinnova), com sucesso. “O mundo têxtil trabalha com ‘blends’. A meta é ganhar mercado e substituir outras fibras, até mesmo o poliéster, nesses blends ”, explicou.

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O diretor de Novos Negócios da Suzano, Vinicius Nonino. (*Foto: Silvia Zamboni/Reprodução Valor Econômico)

Um dos maiores nomes do varejo de moda mundial, a H&M anunciou ontem que vai usar a nova fibra têxtil. De acordo com o chefe da área de inovação da varejista, Mattias Bodin, a fibra “verde ” da Suzano e da Spinnova deve aparecer em diferentes marcas do grupo. A adesão da H&M, que está presente em mais de 70 países, contribui para a escalada da nova empresa e confirma que a tendência sustentável foi abraçada pela moda.

De acordo com Bodin, a H&M tem a ambição de se tornar uma empresa 100% circular e, para tanto, tem testado materiais sustentáveis em todas as suas marcas. “Acreditamos que a Spinnova vai contribuir para atingirmos essa meta. Não quero especular agora, mas vejo potencial de a nova fibra substituir materiais menos sustentáveis em uma ampla gama de produtos ”, afirmou.

Para Timo Soininen, presidente da Spinnova, a joint venture trará mudanças relevantes no mercado têxtil. “Para substituir outras fibras, precisamos de escala e recursos. Já estamos olhando meios de financiamento ”, comentou.

Suzano e Spinnova terão participações iguais de 50% na joint venture, que terá equipe própria para comercialização de seus produtos. A Suzano já era investidora na startup finlandesa e detém, hoje, 23% de seu capital.

De partida, a Suzano adiciona à nova empresa a matéria-prima e seu custo competitivo – a celulose da companhia tem o menor custo de produção do mundo – e conhecimentos da operação industrial em grande escala, entre outras competências. A Spinnova, por sua vez, entra com a tecnologia que possibilita a obtenção da fibra têxtil a partir da celulose microfibrilada de madeira.

“Acreditamos que essa seja a rota tecnológica mais promissora ”, afirmou Nonino, acrescentando que a Suzano terá exclusividade no fornecimento de celulose microfibrilada caso a tecnologia da Spinnova venha a ser adotada por outras empresas.

A primeira unidade fabril da joint venture ficará na cidade finlandesa de Jyv&auml,skyl&auml,, porque ali também funcionam o centro de pesquisas e desenvolvimento da Spinnova, que atua na área de inovação em materiais, e uma planta piloto. O início de operação está previsto para o quarto trimestre de 2022, mas a expectativa é que toda a capacidade já esteja contratada em 2021.

Junto à unidade, a Suzano construirá uma fábrica de celulose microfibrilada que será convertida na fibra têxtil. Para abastecer essa fábrica, a Suzano embarcará celulose seca a partir de porto brasileiro para a Finlândia, onde a companhia já tem uma estrutura própria. O custo dessa etapa não é revelado.

Já o investimento total, considerando toda a infraestrutura necessária ao projeto, é de aproximadamente € 50 milhões, o que equivale a R$ 335 milhões. O imóvel que abrigará a operação fabril será construído e alugado para a joint venture pela incorporadora imobiliária Jyv&auml,skyl&auml, Jykia, que arcará com esse investimento adicional.

De acordo com o cofundador e principal executivo da Spinnova, Janne Poranen, a nova fibra têxtil é mais sustentável entre as disponíveis no mundo neste momento. “É extremamente importante que a Suzano seja a nossa parceria porque pode prover matéria-prima e em qualquer volume ”, afirmou. A Suzano pode produzir cerca de 11 milhões de toneladas anuais de celulose mercado e seus cultivos são certificados.

O projeto nasceu em 2017 dentro da Fibria, que foi incorporada à Suzano no início de 2019, e a matéria-prima usada pela Spinnova em seus testes foi produzida na fábrica de Aracruz (ES), numa unidade piloto com capacidade de duas toneladas por dia. “A ambição é chegar a centenas de milhares de toneladas ”, reiterou Bertolucci.

Fábrica da Suzano em Aracruz (ES). (*Foto: Leandro Fidelis/Arquivo Safra ES)


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