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Leite

Efeitos na produção e no bem-estar de vacas leiteiras

Pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal de Lavras avalia os impactos na produção e na qualidade do leite, no bem-estar de vacas e nas condições da cama, durante o período de um ano de um sistema compost barn no interior de Minas Gerais

por Balde Branco

em 22/09/2020 às 14h19

9 min de leitura

Efeitos na produção e no bem-estar de vacas leiteiras

Com a disseminação do sistema de confinamento em compost barn (CB), são de grande importância as pesquisas sobre os efeitos dessa tecnologia nos vários aspectos da produção de leite. Foi com esse propósito que, sob a coordenação do professor Flávio Alves Damasceno, do Departamento de Engenharia da Universidade Federal de Lavras (Ufla), o estudante de zootecnia nessa universidade, João Antônio Costa do Nascimento, realizou um estudo para avaliar os efeitos do alojamento de vacas leiteiras em uma instalação de compost barn, principalmente quanto à produção e à qualidade do leite, durante o primeiro ano (março de 2019 a março de 2020) de adoção do sistema. Nesse estudo, avaliou-se o efeito do ambiente térmico (temperatura do ar e umidade relativa) no ganho de peso, no bem-estar dos animais, além de variáveis referentes à qualidade da cama.

A propriedade Angu Seco, pertencente à família Oliveira Vilela, está localizada no município de Itaguara (MG). A produtora Regina Olímpia de Oliveira Vilela toca a atividade leiteira, juntamente com suas filhas Christiane, Taciana e Virgínia.

“Ficamos sabendo da tecnologia do compost barn numa palestra ministrada em Cláudio (MG), ministrada pelo professor Flávio Damasceno, e nos interessamos bastante. Nela, ele fez várias demonstrações sobre esse sistema ”, conta Taciana, dizendo que seguiu a orientação do professor que, na ocasião, destacou a importância de procurar assistência técnica especializada para elaboração dos projetos das instalações de compost barn. Ela lembra ainda que visitaram algumas propriedades que utilizam esse sistema para se informarem melhor e verem in loco seu funcionamento.

A família Vilela Oliveira, que criava os animais no sistema de pastagem irrigada, relata que estava cansada com problemas relacionados a parasitas, cascos e mastite. Assim, em julho de 2017, almejando melhoria na produção e na qualidade do leite, iniciou as primeiras conversas para o planejamento da instalação. Foram discutidos alguns pontos importantes para a elaboração dos projetos: problemas com queda de energia elétrica, pouca disponibilidade de água e topografia irregular do local. Os trabalhos se iniciaram em setembro de 2017 e a execução da obra ocorreu em julho de 2018. O primeiro lote de animais foi alojado no mês de fevereiro do ano de 2019, e com isso, foi possível acompanhar a evolução da produtividade do rebanho, formado por vacas com grau sanguíneo 7/8 Holandês.

O professor Damasceno observa que, para reduzir o custo da construção, as produtoras utilizaram mão de obra própria da fazenda, além de fazer diversas pesquisas de preço. Dentre os materiais empregados na construção, está, por exemplo, o rejeito de indústria, caso de cabos de aço emborrachados que foram utilizados no fechamento lateral da instalação. Também foram utilizados como pilares alguns postes de concreto. Como a propriedade apresentava problema com a demanda energética, foram instalados dois ventiladores de menor consumo. “Com isso, os produtores conseguiram uma redução no custo total de construção da instalação de compost barn, que ficou próximo a R$ 240.000 ”, conta Damasceno.

A instalação de compost barn construída apresenta dimensões totais de 23 x 56 metros e área de cama de 15 x 56 metros. O pé-direito da instalação e beiral possuem 4,8 e 2 metros, respectivamente. O material utilizado na cama é composto por maravalha, onde é realizada uma pequena reposição (cerca de 10 m³) a cada três meses.

Foto: Balde Branco

O professor Damasceno explica que o projeto foi devidamente projetado para atender às necessidades da propriedade. Na face voltada para o sul da instalação, localiza-se o corredor de alimentação, onde se encontram os bebedouros e o cocho. A instalação possui quatro bebedouros e, entre eles, há cinco passagens que dão acesso à área da cama pelos animais. O trajeto das vacas até a sala de espera da ordenha é feito no lado oposto ao corredor de alimentação, por três portões que conduzem a um corredor de serviço e, este, para a sala de ordenha.

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A primeira lotação do compost barn era de 51 animais, divididos em dois lotes, que produziam 865 litros de leite por dia, representando 18,4 litros/vaca/dia. No mês de março de 2020, o galpão estava com sua lotação máxima (70 animais confinados), divididos em três lotes de vacas em lactação e um lote de vacas no pré-parto. Nesse período, observou-se um incremento na produção total de 1.665 litros de leite, numa média de 24 litros/vaca/dia.

O incremento de produção total correspondeu a 48%, representando um acréscimo de 23,3% de litros de leite/vaca/dia por animal (Figura 1). Em relação ao peso dos animais, o novo sistema permitiu um aumento de 7,2%. De acordo com João Antônio C. do Nascimento, “o fator climático é uma variável que exerce forte influência no peso dos animais e na produção de leite, e isso ocorre principalmente pelo fato de que vacas de raças de origem europeia, que possuem maior aptidão leiteira, são pouco adaptadas ao clima tropical, sofrendo muito com o estresse térmico. Este pode ser um fator limitante para que alcancem seu máximo potencial genético. Diante disso, o sistema compost barn proporcionou condição de conforto mais adequada aos animais ”.

Outro ponto observado no estudo foi a melhoria na qualidade do leite. A CCS e CBT apresentaram, respectivamente, valores médios de 276 mil células por mililitro (cel/ml) e 7,2 mil UFC/ml, durante período avaliado, ou seja, uma redução de 30% na CCS e de 60% na CBT (Figura 2). Segundo o professor Damasceno, “vacas que são alojadas em locais secos, limpos e confortáveis podem apresentar maior produção e qualidade do leite ”.

Variáveis da cama &ndash,&nbsp,No quesito temperatura da cama, na superfície e na profundidade de 20 cm, registraram-se os valores médios de 27 e 50,7 graus Celsius, respectivamente. Com relação à temperatura corporal, observa-se que esta manteve-se dentro da faixa recomendada, 45 e 60 graus Celsius (Figura 3a).

Em relação à variável umidade da cama, verificou-se (Figura 3b) que se manteve na maior parte do tempo dentro da faixa recomendada (40% a 65%). “O manejo da cama, quando bem realizado, pode trazer resultados satisfatórios, como redução da CCS do leite, melhoria do escore de limpeza, aumento no conforto dos animais e redução da claudicação, benefícios que são percebidos pelos produtores após a implementação do sistema ”, ressalta Nascimento.

A variação do escore corporal manteve-se entre 3,0 a 3,5 (Figura 4). No caso dos escores de higiene e locomoção, a variação manteve-se entre 1,0 e 1,5 durante todo período avaliado. Isso é muito importante quanto às vantagens do sistema de compost barn, conforme destaca Nascimento: “Rebanhos com escores de higiene entre 3 e 4 apresentam problemas de higiene do úbere, o que resulta em maior risco de mastite ambiental, além de redução da qualidade do leite e da eficiência de ordenha. Deficiências de higiene, que podem gerar consequências negativas para a qualidade microbiológica do leite, implicam maiores obstáculos para o controle da mastite ”.
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O professor Damasceno explica que a manutenção de um bom padrão de manejo da cama é um constante desafio de controle da umidade da cama. “Além da avaliação da condição da cama e do escore de limpeza das vacas, uma das formas mais adequadas de avaliar a interferência da qualidade da cama sobre a saúde da glândula mamária é a CCS do tanque e da incidência de novos casos de mastite clínica. ”

Em relação aos parasitas, segundo as produtoras de leite, o gasto com remédio para combater carrapatos fica na faixa de R$ 600 a R$ 800. Atualmente, tem-se usado remédio somente em vacas secas que saem do pasto e vão para a instalação. Remédio para combater mosca tem-se usado somente na ordenha.

No geral, com os dados do estudo, o professor destaca que a família Vilela mostrou-se satisfeita com os resultados obtidos pelo sistema de compost barn, já que houve um significativo incremento na produção leiteira e melhoria da sanidade e do conforto do rebanho. “Como próximas etapas, as produtoras pretendem aumentar a instalação para alojar 100 vacas e melhorar ainda mais a qualidade do leite, investindo numa ordenha maior e mais próxima ao compost barn ”, adianta ele.

Busca constante por melhorias

A família Oliveira Vilela está na produção leiteira há mais de 24 anos, e quem está à frente do negócio, desde a morte de seu esposo, é Regina Olímpia de Oliveira Vilela, que conta com a ajuda das filhas Christiane, Taciana e Virgínia. Na propriedade Angu Seco, elas foram evoluindo, ao longo dos anos, saindo de um sistema mais rústico de produção, passando a sistema de pastagem em piquetes irrigados, até chegarem à instalação do sistema de confinamento em compost barn.

“Antes, com as vacas criadas a pasto, tínhamos muitos problemas com carrapatos, estresse térmico, doenças de casco e de mastite devido ao barro na época de chuvas. E, claro, de reprodução ”, diz Taciana, lembrando que por mais que buscassem melhorias visando à produtividade e à qualidade do leite, os resultados ficavam aquém do desejado.

Ela conta que a decisão para instalar o confinamento compost barn surgiu com o objetivo de superar os vários problemas citados. No primeiro ano com as vacas no sistema, já verificaram resultados positivos. “Ficou muito mais fácil a visualização das vacas no cio, daí se perde menos cio, melhorando os índices de reprodução. Problemas com carrapato reduziram-se muito, o que representa menos gastos com medicamentos, pois utilizamos somente em vacas que tiveram que ficar no pasto. O conforto térmico para elas melhorou muito, pois há os ventiladores que ajudam muito nesse quesito ”, salienta Taciana, observando também que constatou a elevação da produtividade das vacas e a redução nos casos de mastite, comprovado pela redução da CCS.

No quesito aumento da produção, a produtora relata que, anteriormente, a média ficava entre 850 e 1.000 litros de leite por dia e atualmente está entre 1.450 e 1.500 litros por dia. “Nossa meta é, com as novilhas que estão para chegar, alcançar com 100 vacas em lactação, os 2.000 litros de leite por dia, nos próximos dois anos ”, diz ela, lembrando que esse trabalho conta com a valiosa cooperação de sua equipe de colaboradores e com o trabalho do médico veterinário.

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