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Pesquisa

Estudo avalia o uso da casca de cacau como volumoso na alimentação de bovinos

por Coordenação de Comunicação e Marketing do Incaper

em 29/01/2019 às 12h24

6 min de leitura

Estudo avalia o uso da casca de cacau como volumoso na alimentação de bovinos

Uma pesquisadora do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) realizou um estudo para avaliar os efeitos da utilização da casca do cacau como parte integrante da alimentação de bovinos na época seca do ano. A zootecnista e doutora em nutrição e alimentação animal Mércia Regina Pereira de Figueiredo conduziu o estudo.

“A pesquisa foi visa oferecer uma alternativa alimentar para a suplementação animal na época seca do ano, através do uso de coprodutos regionais, como a casca de cacau. Os coprodutos são normalmente descartados ou utilizados na adubação da lavoura, mas com os resultados da pesquisa, observamos que o coproduto do cacau pode ser fornecido aos bovinos como parte do volumoso, desde que a dieta seja balanceada de acordo com a categoria e exigência animal ”, explicou a pesquisadora.

Mércia ainda explica que em alguns municípios do estado, tem um volume considerável de coproduto do cacau e muitos produtores de leite e carne também possuem lavoura de cacau.

“Assim, quando houver escassez de alimento, como por exemplo na época seca do ano, a casca de cacau poderá ser utilizada na alimentação dos animais, contribuindo para a manutenção de produções estáveis, possibilitando a integração dos sistemas produtivos e fomentando a sustentabilidade da atividade pecuária ”, disse.

Contudo, é importante destacar que o coproduto do cacau não deve ser fornecido aos animais como volumoso único, mas sim como parte de uma dieta equilibrada.

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O estudo avaliou o efeito da substituição do feno de tifton por inclusões crescentes do coproduto (casca) do cacau (0, 8, 16, 24% da matéria seca) sobre o consumo, a digestibilidade dos nutrientes e o balanço proteico das dietas. Foram utilizadas16 novilhas leiteiras mestiças Holstein x Gir, com peso médio de (363,0 &plusmn, 27,7 Kg).

O Brasil é o quinto maior produtor de cacau do mundo, gerando 273,10 toneladas anuais, com rendimento médio de 403,00 kg por hectare. (*Foto: Divulgação)

O estudo

O estudo foi realizado em Florestal, Minas Gerais, onde a média anual das temperaturas máxima e mínima são de 14°C e 27°C respectivamente e a precipitação anual é de 1434 mm.

Dezesseis novilhas mestiças Holstein &times, Gir com peso médio de 363,0 &plusmn, 27,7 kg foram alojadas individualmente em baias cobertas com piso de concreto, equipadas com comedouros e bebedouros individuais. As dietas oferecidas foram baseadas na substituição do feno de tifton 85 (Cynodon sp) pelo coproduto do cacau nos níveis (0, 8,16, e 24% MS).

O coproduto do cacau utilizado no estudo foi obtido na Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira (Ceplac/ES) e em fazendas da região de Linhares, no norte do Estado. Era composto de cascas que, depois de secas ao sol, foram armazenadas em tambores. Posteriormente, o material foi picado e adicionado à dieta dos animais de acordo com os teores de inclusão, sendo fornecido em duas refeições diárias. As dietas foram isonitrogenadas e formuladas de acordo com as exigências nutricionais de gado leiteiro (NRC, 2001).

O período experimental foi de 17 dias, incluindo 12 dias para adaptação dos animais às dietas, manejo e instalações e um período de coleta (experimental) de cinco dias.

Resultados

O coproduto do cacau foi caracterizado como um alimento altamente fibroso, apresentando elevados teores de fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e lignina (78,60, 60,30 e 28,33%) respectivamente, o que pode levar à redução do consumo animal e da digestibilidade dos nutrientes.

No presente estudo não houve efeito do coproduto do cacau na ingestão de nutrientes. No entanto, o coproduto afetou a digestibilidade da matéria seca, proteína bruta, fibra em detergente neutro e fibra em detergente ácido, diminuindo à medida que o nível de inclusão deste na dieta aumentou. Assim, é importante destacar que o coproduto do cacau não deve ser fornecido aos animais como volumoso único e sim como parte de uma dieta equilibrada.

O coproduto do cacau pode ser fornecido em até 16% em substituição ao feno de capim tifton 85 em dietas de novilhas leiteiras desde que haja disponibilidade e seja economicamente viável. O estudo foi publicado na Revista Brasileira de Zootecnia e está disponível na Biblioteca Rui tendinha no link:
https://biblioteca.incaper.es.gov.br/digital/bitstream/123456789/3339/1/cocoabyproductindietsfordairyheifers-figueiredo.pdf

Sobre o cacau

O fruto do cacaueiro é uma espécie tropical de grande importância ecológica, social e econômica para diversas regiões produtoras que se encontra espontaneamente no estrato mais baixo das florestas. O Brasil é o quinto maior produtor de cacau do mundo, gerando 273,10 toneladas anuais, com rendimento médio de 403,00 kg por hectare.

A Bahia é o maior estado produtor de cacau do país, representando aproximadamente 50% do total da produção nacional (IBGE, 2015). No ES, Linhares é o município que tem a maior produção de cacau. A casca pode representar cerca de 80% do fruto do cacau e pode ser utilizado na alimentação de ruminantes na forma de farinha seca, ou mesmo preservado como silagem (Silva Neto et al., 2001).

Há uma demanda de informações por parte dos produtores da região norte do estado, a respeito do uso de coprodutos como o de cacau na alimentação animal: qual o valor nutritivo, a quantidade adequada de acordo com a espécie e categoria animal e como fornecer a bovinos, ovinos e até aves. No entanto, a escassez de dados na literatura- particularmente em relação ao valor nutricional do coproduto do cacau, as estratégias nutricionais utilizadas e o desempenho dos animais – tem dificultado seu uso adequado. Algumas pesquisas têm sido conduzidas com o objetivo de determinar a composição química e o melhor nível de inclusão de coprodutos do cacau, como por exemplo, a farinha de cacau, que é extraída do grão do cacau, em dietas de ruminantes e monogástricos, (SILVA et al., 2005, CARVALHO et al., 2006). No entanto, para a casca do fruto do cacau os resultados ainda são pouco conclusivos, necessitando de mais estudos.

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