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Piscicultura

Betara, Mandi, Espada: conheça alguns dos saborosos e nutritivos peixes não-convencionais

Penacos, ou peixes não-convencionais, são espécies usadas tradicionalmente por populações de pescadores e ribeirinhos, mas que tem menor valor comercial, por não serem usualmente conhecidas e consumidas por públicos mais amplos

por Estado de São Paulo

em 05/04/2021 às 11h53

8 min de leitura

Betara, Mandi, Espada: conheça alguns dos saborosos e nutritivos peixes não-convencionais

O Instituto de Pesca (IP-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, desenvolve pesquisas e ações visando a ampliar o consumo dos chamados Peixes Não-Convencionais (Penacos). Os trabalhos abrangem desde a qualidade nutricional desse alimento, ao aspecto social relacionado à pesca e o potencial de mercado envolvido, com foco no consumo consciente.

Erika Fabiane Furlan, pesquisadora do IP explica, basicamente, os Penacos são espécies de peixes usadas tradicionalmente por populações de pescadores e ribeirinhos, mas que tem menor valor comercial, por não serem usualmente conhecidas e consumidas por públicos mais amplos. “Esse termo já está tão bem estabelecido que pescadores de algumas colônias já se referem às espécies como Penacos ”, afirma Ingrid Cabral Machado, também pesquisadora do Instituto.

Para ela, a intenção de abarcar essas espécies sob a sigla é uma estratégia para auxiliar na conscientização do consumidor sobre a importância de consumi-los. “O pescador artesanal, que trabalha em baixa escala, em regime de economia familiar, acaba obtendo essas espécies na pesca e encontra dificuldade em comercializar ”, prossegue Ingrid. “Há também uma sazonalidade na produção: ele não tem todas as espécies o tempo todo, existe uma flutuação. A ideia é conseguir mercado para esses peixes também ”, explica.

Se você se animou em experimentar os Peixes Não-Convencionais, confira o nome de alguns deles: Parati, Guaivira, Mandi, Espada, Caratinga, Betara, Acará, Carapau, Maria Luiza, Palombeta, Salteira e Oveva.

As especialistas do IP dizem que apesar de seu vasto litoral e grande quantidade de rios, o consumidor paulista – assim como de boa parte do Sudeste e Sul brasileiros – ainda não vê o peixe como uma de suas principais fontes de proteína na alimentação diária. Nos grandes centros urbanos, acreditam, as pessoas têm menos contato com pescado, limitando-se a consumi-los em ocasiões especiais. “Muitas vezes o consumidor não diferencia nem mesmo quais peixes são marinhos e quais de água doce ”, menciona Erika, para quem muita gente tem dificuldade na escolha do pescado, por não ter o hábito de prepará-lo em casa.

“Isso a gente vê nitidamente, por exemplo, quando vai conversar com os jovens, que comem muito fora de casa. Quando você fala de um ingrediente ele não sabe dizer o que é e nem como escolher, porque não tem o hábito de cozinhar. Às vezes os próprios pais já não tinham mais ”, exemplifica. A pesquisadora constata que, no geral, o consumidor brasileiro muitas vezes não conhece nem mesmo as espécies convencionais de pescado, limitando-se ao salmão, ou tilápia (comercializada como Saint-Peter), por exemplo.

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“As pessoas, muitas vezes, sequer conhecem os peixes que são pescados ou produzidos na própria região ”, adiciona Ingrid, lembrando que mesmo em cidades do litoral de São Paulo, é mais regra que exceção os restaurantes servirem espécies importadas, como a merluza argentina ou a polaca do Alaska, ao invés das encontradas localmente. “O assunto é importante porque falta realmente o conhecimento por parte do consumidor ”, coloca a pesquisadora.

A importância do consumo responsável

As pesquisadoras do IP defendem que junto com um aumento da informação do consumidor sobre os pescados, tende a surgir uma maior preocupação com as origens e características de cada produto, o que se relaciona à tendência do consumo responsável, que engloba aspectos ambientais, sociais e econômicos. De acordo com Ingrid, a este respeito, existem duas etapas diferentes na cadeia. “Quando se fala de pesca responsável, se refere às boas práticas na atividade em si: não praticar pesca predatória, respeitar o defeso, evitar espécies que estão em listas de ameaçadas, fazer a escolha correta de petrechos, buscar reduzir o rejeito na pesca ”, diz a pesquisadora do IP. Já o consumo responsável, pormenoriza, envolve diretamente o consumidor, relacionando-o com esses preceitos. “É o conhecimento de que existem espécies que estão ameaçadas de extinção que ele deve preterir na hora da compra, também em relação ao tamanho dos peixes que são comercializados, que deve obedecer certas regras, entre outras coisas ”, complementa.

Já Erika levanta também a questão da sazonalidade de cada espécie e faz uma analogia às “frutas da época ”. “Assim como muitas frutas têm as estações do ano, o peixe também, pois tem épocas em que está no defeso e não pode ser capturado e tem épocas em que está disponível e é mais facilmente pescado ”, detalha. Conforme elucida, a observância à essa sazonalidade está relacionada tanto à manutenção dos estoques pesqueiros quanto à qualidade e preço do que está sendo vendido.

Para as pesquisadoras do IP, tem havido um aumento no interesse pelo pescado por parte dos consumidores brasileiros, reflexo de uma maior preocupação com a alimentação saudável – em parte devido à atual pandemia. No entanto, ainda prevalece no senso comum alguns mitos, ou preconceitos infundados quanto ao consumo de peixes, crustáceos e moluscos. Cristiane e Rúbia nos ajudam a afugentar alguns deles:

Pescado é muito difícil de preparar

Provavelmente você já deve ter ouvido isso, ou pessoalmente deu preferência à compra de outra carne pensando no trabalho extra que seria preparar um pescado. Conforme explica Cristiane, isso não é mais uma realidade, graças à oferta de produtos variados que encontramos atualmente. “No passado, esse era um dos pontos que levava o consumidor, por vezes, a não escolher o pescado, pela dificuldade em eviscerar, descamar etc. Hoje, no entanto, encontramos filés já sem pele, sem espinhos, sem vísceras, prontos para o preparo ”, afirma. Ela menciona que algumas pesquisas já evidenciam o aumento de consumo nos lares, pois o consumidor passou a perceber que pode, sim, ser fácil e prático preparar o pescado.

Só como o pescado se for fresco, nada de congelado

Essa é outra afirmação que não procede, de acordo com as pesquisadoras. “O pescado tem que ser de qualidade, seja fresco, seja congelado ou conservado de outra forma, ou seja pronto para o consumo ”, garante Rúbia. A pesquisadora acredita que essa crença se deve a fatores culturais dos brasileiros, onde, antigamente, prezava-se por comprar o peixe recém-desembarcado, das mãos do pescador. Com o desenvolvimento da cadeia do frio e da industrialização do pescado no país, entretanto, passou a ser possível conservá-lo por muito mais tempo e pessoas de regiões distantes do litoral puderam ter acesso aos frutos do mar, por exemplo.

“A cadeia produtiva está cada vez mais organizada e a qualidade cada vez melhor. Os órgãos de inspeção estão trabalhando bastante e atuando no sentido de coibir falsificações e fraudes, tentando transmitir uma segurança maior para o consumidor ”, garante Rúbia. As pesquisadoras lembram que, fresco ou congelado, é essencial comprar pescado em estabelecimentos de confiança, que cumpram os requisitos higiênicos-sanitários e sejam aprovados pelos órgãos fiscalizadores.

Tenho medo de comer peixe, porque tem muita espinha
Mais um preconceito de raiz cultural em nosso país que acaba atrapalhando o acesso ao pescado. “É uma preocupação até certo ponto exacerbada, que acaba se tornando um demérito na percepção popular sobre o pescado. Muita gente não come pensando nesse risco ”, lamenta Cristiane. Embora algumas espécies tenham muitas espinhas e que seja necessária atenção ao consumi-las, há muitos peixes com bem poucas, a exemplo dos bagres, do cação, da truta, do pirarucu, entre outros. “Esse é um mito importante que podemos melhorar, tanto na escolha da espécie quanto nos modos de preparo, optando, por exemplo, pelos filés, que já vem sem espinhas ”, assegura a pesquisadora. Já Rúbia alerta que, no caso das crianças, sempre é importante os pais supervisionarem o consumo dos filhos, retirando quaisquer espinhas antes de oferecer-lhes o alimento.

Eu não como camarão, porque me causa alergia
De acordo com as pesquisadoras, esse receio se volta aos crustáceos e mariscos em geral, mas principalmente ao camarão. Entretanto, o risco é menor do que por vezes acreditamos, sendo amplificado por boatos. “Frequentemente, quando questionamos as pessoas sobre esse respeito, elas próprias dizem que nunca comeram, mas conhecem casos de conhecidos, parentes etc ”, questiona-se Cristiane.

“A literatura científica indica que, normalmente, esses casos de reações alérgica ao consumo de frutos do mar (camarão mais comumente), está na verdade relacionado ao uso de aditivos na conservação desse produto (por exemplo, sais de sulfito), para que mantenha um aspecto visual apropriado e não se deteriore rapidamente ”, agrega.

No momento da pesca, o pescador adiciona esses sais de sulfito e, se a concentração máxima permitida for desrespeitada, pode acontecer de as pessoas terem reações alérgicas – que, em casos extremos, podem ser graves. “Há pessoas que têm reações a variados tipos de proteínas presentes em alimentos, não apenas no pescado, mas isso é mais raro. Essas alergias estão relacionadas mais ao uso do aditivo ”, alega a pesquisadora.

Como combater isso? Na opinião das especialistas é preciso conhecer o fornecedor, de quem se compra o camarão. “Há pescadores que vendem pescados com origem garantida e que evidenciam que o camarão não tem aditivos, conservadores e pode ser consumido com segurança. É algo que devemos começar a ver e tomar cuidado: a origem do que se consome ”, finaliza Cristiane.

Foto de capa:
Rúbia Tomita/divulgação/Secretaria de Agricultura de São Paulo

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