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Conforto para as vacas produzirem mais leite

"Pecuaristas capixabas do noroeste e do sul iniciam experimentos com o “Compost Barn”, que aumenta o bem-estar animal e aumenta produtividade em 30%"

por Redação Conexão Safra

em 14/06/2018 às 0h00

8 min de leitura

Conforto para as vacas produzirem mais leite

Leandro Fidelis


foto:
PÂMELA KOPPE



Uma técnica de confinamento que proporciona mais conforto e saúde às vacas e aumenta em 30% a produtividade está conquistando os pecuaristas capixabas. Estamos falando do “Compost Barn ” (“Estábulo de Composto ”, em português), já utilizado em países de clima temperado e no Brasil há seis anos. No Espírito Santo, os primeiros testes começaram em 2016, e diante dos resultados animadores, especialistas já falam na redenção da pecuária leiteira.


O município de Iconha, no sul, é pioneiro no Estado com a iniciativa de Rômulo Volponi. Já em Boa Esperança, Olavo Ferrari foi o primeiro a implantar o “Compost Barn ” na região noroeste. Ao todo são pelo menos dez estábulos já instalados ou em projeto em Santa Maria de Jetibá, Santa Teresa, Alfredo Chaves, Pinheiros, Guarapari, Castelo e Venda Nova do Imigrante. A diretoria da Associação de Criadores e Produtores de Gado de Leite do Espírito Santo (ACPGLES) é quem divulga, incentiva e acompanha todas as fases da implantação do sistema nas propriedades rurais.


Adotado em países como Estados Unidos, Canadá, Holanda e Israel, o “Compost Barn ” tem como principal característica a utilização de uma “cama ” orgânica cobrindo todo o chão do estábulo e que depois vira adubo. Por conta disso, baias com superfície de areia, borracha e concreto foram abolidas. O piso é formado geralmente por serragem, casca de amendoim ou outro material de baixo custo e de fácil acesso para o produtor rural.


Segundo a Embrapa Gado de Leite, que coordena estudos sobre ‘Compost Barn’, para se transformar em fertilizante orgânico a cama fica em contato com o solo com uma altura entre 20cm e 50cm. As vacas defecam e urinam na cama, dando início ao processo de compostagem. No caso específico a técnica, os resíduos depositados pelo animam passam por uma semi-compostagem aeróbica, pois entram em contato com o ar.


O sistema só funciona se a cama estiver sempre seca e passar por constante aeração, o que é realizado por meio de ventiladores e com a remoção constante do material. De acordo com o técnico da ACPGLES, Joedson Scherrer, é recomendado virar a cama pelo menos duas vezes por dia. Se a umidade do ar estiver alta, o processo deve ser repetido pelo menos três vezes.


Dependendo do manejo, a cama pode ser utilizada até por um ano no estábulo. Na substituição por um novo composto, o material orgânico velho vai direto para as lavouras ou pode ser vendido para a vizinhança como adubo, a exemplo da palha de café ou de arroz. “O Compost Barn não agride o meio ambiente, pelo contrário, o renova ”, afirma Scherrer.


E se antes no confinamento convencional as vacas ficavam retidas em baias minúsculas, no ‘Compost’ os animais, embora confinados, ficam livres, circulam à vontade e apresentam cio com mais facilidade, o que melhora os índices reprodutivos. As vacas só saem do confinamento para ir à sala de ordenha. A ausência de ectoparasitas e moscas, além do mau cheiro, são outros pontos positivos da técnica.


Investimento

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O investimento vai depender muito da infraestrutura e da topografia da propriedade. Em alguns casos, é preciso fazer terraplanagem. Segundo o presidente da associação, o custo fica em média de R$ 2.900 a R$ 3.200 por cabeça de animal alojado. “Isso inclui toda a estrutura, desde as camas, construção de cochos de suplementação até a instalação elétrica e de ventiladores ”, diz.


A técnica vem substituir o atual sistema de pastoreio, ainda muito refém das condições climáticas. Se nos períodos chuvosos dá muita lama, a vaca não tem conforto e aumentam os problemas de casco e matite, na seca não tem pasto, falta água e a pastagem não rebrota. “O sistema cada vez vai ocupar mais lugares na produção de leite. Somos favoráveis a toda experiência com resultados para a atividade crescer de forma econômica e sustentável ”, completa Scherrer.


Primeiro capixaba a testar o “Compost Barn ”, Rômulo Volponi (54), da comunidade de Santo Antônio, a 16 km do centro de Iconha, viu pela internet e na TV a possibilidade de a nova técnica aumentar a produção de leite. Junto com a mulher, Irani Fornaciari, ele tem dez anos de pecuária e há dois apostou no confinamento que utiliza camas orgânicas.


O casal investiu em um galpão com 400 m², com capacidade para alojar até 40 vacas, com 10 m² de espaço para cada animal. Atualmente, 21 vacas da raça Holandesa estão confinadas, sendo parte em pré-parto e outras em produção. Em sistema rotacionado, outros 15 animais em produção passam o dia no galpão e a noite no pasto.


Após adotar o ‘Compost’, a produção que era de 20 litros por dia por animal passou para 30 l/dia. “É incrível como você vê os animais mais sossegados. Nesse sistema, as vacas estão todas deitadas e ruminando. O conforto é grande para elas e acredito que podemos atingir uma média maior de produção nos próximos meses ”, diz Volponi.


Segundo o pecuarista, o galpão ainda carece de alguns ajustes para seu pleno funcionamento. Ele já fez a retirada da cama seis vezes e está vendendo o composto orgânico para produtores de banana da região. Pelo pioneirismo, Rômulo Volponi acabou virando referência em ‘Compost’ para outros criadores capixabas. “Até pessoas do norte já me procuraram com a ideia de começar ”.


foto:
PÂMELA KOPPE




Rendimento

A dificuldade com o sistema anterior de piquete rotacionado a pasto, marcado pela adversidade climática, levou o pecuarista Olavo Bergamin Ferrari (33), do Córrego Perlet, zona rural de Boa Esperança, a adotar o “Compost Barn ” há apenas dois meses. Zootecnista de formação e com quatro anos de experiência na produção de leite, se informou pela internet e pela TV até um técnico da Associação de Criadores e Produtores de Gado de Leite do Espírito Santo (ACPGLES) trazer a ideia para a propriedade.


Ferrari estruturou um galpão com 400 m² que aloja 24 animais da raça Girolando, mas por enquanto 14 vacas desfrutam do conforto térmico do novo tipo de confinamento com manejo regularizado. Em apenas dois meses, a média de litros de leite por vaca, que oscilava entre 13 e 19 l, passou para 22 litros por animal/dia.


De acordo com o pecuarista, a meta é fazer a produção chegar a 25 l ou 30 litros por animal/dia. “Estou ainda em fase experimental, mas posso concluir que animais que produzem quinze litros já não servem. Tenho que atingir média mais alta porque o custo sobe ”, avalia Olavo Ferrari.


Outra observação do pecuarista e zootecnista sobre o “Compost Barn ” é o rendimento de vacas leiteiras que já estavam em produção antes do novo confinamento. “Elas já não dão rendimento alto. Espero dentro de um ano ter animais produzindo de forma uniforme ”.


A estrutura de ‘Compost’ contempla uma área para entrada e saída das vacas, corredor de serviço, bebedouros e linhas de cocho, além da ventilação artificial. Conforme avalia Ferrari, o conforto garantido ao animal foi fundamental para o aumento da produtividade. “Antes, se chovia, tinha lama no chão e a média caía, eram altos e baixos. Com nutrição equilibrada, sem adversidade climática e parasitas, as vacas ainda têm condição de expressar genética ”, conta.


Para montar o galpão com “Compost Barn ”, o pecuarista fez um financiamento. Sem calcular a mão-de-obra, ele estipula investimento na ordem de R$ 70 mil, sendo mais de R$ 1.500 por animal alojado. Ele espera quitar o financiamento em dez anos. A propriedade também trabalha com gado de corte e recria.


Como divulgador da nova técnica de confinamento, Olavo acredita que está contribuindo para desmistificar a pecuária leiteira no noroeste do Estado. “Moradores da região sempre tiveram o pé atrás com leite, porque é uma atividade que exige muito profissionalismo, não aceita amadorismo ”, ressalta.


Ferrari é associado há oito anos à Cooperativa Agropecuária do Norte do Espírito Santo (Veneza) para quem fornece todo o leite produzido. Ele adquire ração, matriz de leite e recebe assistência técnica por meio da cooperativa. “Com a Veneza, não tenho tanto a concorrência de outros laticínios que atuam independentes ”, afirma.


O maior desafio ainda é a garantia de preço para o leite para compensar todo o investimento no “Compost Barn ”. “Se for para trabalhar com leite, não trabalho com outro sistema. O custo é alto, e o preço do leite, baixo ”.


“Acredito que o Espírito Santo vem avançando muito no sentido de confinamento e intensificação da produção de leite. Com o decorrer do tempo e provável recuperação do preço, o Estado vai se tornar destaque nas áreas de intensificação do gado leiteiro ”, conclui Joedson Scherrer.


Benefícios do “Compost Barn ”


– Animais passam a caminhar menos


– Diminuição do estresse térmico


– Eliminação de parasitas


– Melhoria da nutrição

– Vacas não ficam expostas à lama nos períodos de chuva


– Diminuição dos riscos de contrair mastite


– Melhora do escore de higiene das vacas


– Melhora da condição de cascos e pernas


– Aumento da detecção de cio


– Melhoria na qualidade do leite

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